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Pesquisadoras alagoanas vencem estereótipos

Maioria entre universitários, mulheres ainda são raras em algumas áreas do conhecimento

“Acho que a educação é muito seletiva. Existem disciplinas que parecem ser para garotos e outras para garotas, e já passam isso na própria escola e em outros ambientes. Se observarmos bem até mesmo os brinquedos, veremos que é muito difícil encontrar um que necessite utilizar a lógica que chame a atenção de uma menina. Eles são feitos justamente para o público masculino”  --Sendy Melissa, pesquisadora
Sendy Melissa, em laboratório de Física da Ufal. (Foto: Naísia Xavier)

O Censo da Educação Superior 2013, divulgado em 2014, pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostra que 55,5% dos matriculados nas instituições são mulheres, e elas são 59,2% dos alunos concluintes.

Mesmo assim, quando se fala de cientistas, a ideia imediata para a maioria das pessoas é de homens de jaleco num laboratório. E, se é assim no imaginário coletivo, na dureza das bancadas e grupos de estudo reais, em muitas áreas do conhecimento, não é mesmo muito diferente. Nas Ciências Exatas, por exemplo, pesquisadoras são uma raridade.

Porém, grupos de pesquisa acadêmica alagoanos mostram que, por meio de um desempenho acadêmico de destaque, as mulheres têm conseguido conquistar seu espaço também em áreas estereotipadas como masculinas, a exemplo da Física, da Meteorologia ou da Matemática.

As garotas do laboratório

Sendy Melissa Santos do Nascimento, aluna do sétimo período do Instituto de Física da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), começou a fazer pesquisa já no Ensino Médio. O namoro com os números começou ainda antes, porém. Ela lembra de se interessar desde pequena, vendo o pai fazer as contas de casa. “Queria ajudar. Sempre houve aqueles que diziam que não era caminho para uma menina, ou que eu não tinha jeito. Mas tive algumas inspirações e bons professores”, conta a pesquisadora.

Em 2009, Sendy Melissa já recebia apoio da Fapeal, por meio do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica Júnior, conhecido como Bic Jr, que contempla estudantes de ensino médio e é fruto de parceria da Fundação com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Já na Universidade, desde 2012 ela é bolsista do programa na versão graduação (Pibic).

A dedicação e os resultados lhe renderam, em 2013, o Prêmio de Excelência Acadêmica da Universidade, por seu trabalho de Iniciação Científica, em que foi orientada pelos doutores Marcelo Leite Lyra e Italo Nunes de Oliveira. Ela estudou as propriedades óticas e mecânicas de fluidos complexos e polímeros, no projeto de pesquisa intitulado Fenômenos Críticos e não-Lineares em Sistemas Quânticos Desordenados, Fluidos Complexos, Biomoléculas e Sistemas Dinâmicos. Mesmo ainda guardando um jeito de menina e sem perder a ternura, jamais.

Outro caso de sucesso entre ex-bolsistas do Bic Jr é o de Tamires Alybia Gomes de Lira. Pesquisadora do Instituto de Ciências Atmosféricas da Ufal, ela teve a oportunidade de fazer parte da graduação no Instituto de Tecnologia da Flórida (Florida Institute of Technogoly – FIT), nos Estados Unidos, entre 2013 e 2014. De volta a Alagoas, está concluindo o curso de Meteorologia. No laboratório climático, seu orientador é o doutor Luiz Carlos Molion, autoridade mundialmente reconhecida em Climatologia.

Em 2009, quando era aluna na rede pública do Estado, Tamires foi selecionada para participar como bolsista de um projeto de pesquisa envolvendo as áreas de Engenharia Civil e Matemática, sob orientação do doutor Luciano Barbosa dos Santos, do Centro de Tecnologia da Ufal.

Sobre essa oportunidade, ela afirma que o convívio com o meio acadêmico por dois anos, ainda no Ensino Médio, a fez ponderar mais conscientemente sobre que carreira seguir. E não se arrepende da escolha. “Nunca senti nenhum tipo de pressão positiva ou negativa a respeito de esse ser um ambiente masculino ou coisas afins”, afirma.

Nem tudo azul, nem tudo cor-de-rosa

Elas olham com otimismo para seu futuro, que inclui a carreira acadêmica, mesmo sabendo que há dificuldades a mais, no caso das mulheres. “Essas pesquisadoras já são profissionais graduadas que trabalham com pesquisa e produzem artigos. Acho injusto elas ficarem seis meses sem receber bolsa porque querem ser mães”, opina Sendy Melissa, que já tem a pequena Alice, de três anos, ao se referir à situação de colegas que decidiram pela maternidade enquanto cursavam o Mestrado.

E como entre seus objetivos profissionais está o de divulgar a Ciência para as meninas, jovens e mulheres de Alagoas, ela faz uma observação, que serve de alerta. “Acho que a educação é muito seletiva. Existem disciplinas que parecem ser para garotos e outras para garotas, e já passam isso na própria escola e em outros ambientes. Se observarmos bem até mesmo os brinquedos, veremos que é muito difícil encontrar um que necessite utilizar a lógica que chame a atenção de uma menina. Eles são feitos justamente para o público masculino”, analisa.

Apesar do muito ainda a conquistar, não faltam exemplos para servir de estímulo, como o da professora Mônica Ximenes da Cunha. Doutora em Administração, mestra em Engenharia Elétrica e vinculada ao Instituto Federal de Alagoas (Ifal) desde 1996, ganhou a gratidão da sociedade alagoana pelo seu trabalho com aplicativos de informática voltados para usuários autistas.

Atualmente, é líder do grupo de pesquisa em Sistemas de Informação e Engenharia de Software, da área de Tecnologia da Informação, dominada por homens. “Nunca houve nenhuma barreira por questões de gênero. Meus colegas são muito colaborativos e nunca fizeram diferença. O que importa é a atuação”, conclui.

Comments (2)

  1. Muito bom o conteudo.

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