Pesquisas científicas auxiliam cadeia produtiva no Agreste
Pesquisadores saindo dos laboratórios para apresentar seus resultados a produtores rurais numa linguagem mais acessível ainda pode parecer algo distante, mas é exatamente o que vem ocorrendo em 14 municípios do Estado, graças ao projeto Melhoria da Competitividade da Cadeia Produtiva da Mandioca no Agreste Alagoano. A iniciativa é co-financiada pela Embrapa e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), que destinou R$ 124 mil em auxílio à pesquisa e duas bolsas de iniciação científica, desde 2013, viabilizando três anos de trabalho na área da mandiocultura.
Numa ação intitulada “Dia de Campo”, os doutores em Agronomia Antônio Santiago, vinculado à Embrapa Tabuleiros Costeiros, e Vicente Cezar, do Instituto Federal de Alagoas (Ifal), em Marechal Deodoro, apresentaram para os agricultores os resultados mais recentes de suas pesquisas sobre a mandioca de mesa, conhecida por macaxeira. O evento ocorreu numa área de plantio localizada entre os municípios de Junqueiro e Teotônio Vilela, nessa quarta-feira (15/4).
A parceria entre pesquisadores e produtores se dá antes mesmo dos resultados aparecerem. “Como não temos uma estação experimental, geralmente usamos a área cedida por pequenos produtores”, explica o professor Santiago, coordenador do projeto.
As palestras trouxeram informações cientificamente testadas e considerações concretas sobre todas as etapas da produção, desde as melhores práticas de plantio, passando por questões de lucro e produtividade, até o tempo de cozimento, conservação adequada e o sabor para o consumidor final. O projeto também leva em conta questões específicas locais, como sazonalidade, disponibilidade ou ausência de irrigação e demandas da indústria por matéria-prima.
Soluções biosustentáveis
Também foram abordadas soluções tecnológicas simples e baratas para os graves problemas ambientais causados pelas casas de farinha, onde a mandioca é beneficiada. Os transtornos são devido à escassez de madeira para lenha e ao descarte inadequado da manipueira, resíduo tóxico do vegetal, diretamente no ambiente. Já estão sendo pesquisadas soluções biosustentáveis para essas questões, de forma integrada com a criação de animais, testando-se ideias como o uso de esterco para produção de biodiesel e gases combustíveis e aplicações alternativas da manipueira, por exemplo, no controle de pragas.
Na ocasião, os mandiocultores puderam fazer perguntas e tirar dúvidas. De acordo com eles, o evento é importante porque traz informações sobre custos e tempo de seus cultivos. “Hoje se vive muito desemprego e os trabalhadores estão indo para outros estados. Aquele que tem um pedacinho de terra e sabe que pode produzir mais do que vem produzindo pode ficar mais animado”, comenta Manoel Cícero dos Santos, agricultor e membro do Sindicato dos Produtores Rurais de Junqueiro.
Também estiveram presentes estudantes da Escola Agrícola São Francisco de Assis, de Junqueiro, e do curso técnico em Agropecuária do Instituto Federal de Santana do Ipanema, além de uma turma do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Alagoas (Ceca/Ufal), acompanhados pelo Dr. Cícero Calazans, um dos pesquisadores participantes.
Para Lígia Broglio, aluna do curso de Agronomia, o contato com os produtores é relevante. “Apesar de a gente ter aulas práticas para aplicar o que aprende em sala de aula, o volume de informações que adquirimos num evento como esse é muito maior, pela convivência com a realidade”, conclui.