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Um mês sem José Medeiros, 25 anos de Fapeal

noticia06Nesta terça-feira (12/5), completou um mês do falecimento do doutor José Medeiros, um dos fundadores e primeiro presidente da Fapeal, e ainda vice-presidente até seus últimos dias.

Em homenagem, as colaboradoras mais antigas da Fapeal deram depoimentos contando um pouco de suas memórias do convívio com o professor Medeiros pelos últimos 25 anos, idade que a Fapeal completa este ano.

Maria Santaba Barbosa – Assessora Técnica da Fapeal há 20 anos

“O professor José Medeiros era uma pessoa extremamente atenciosa, sabia ouvir e jamais discriminava ninguém. Na estruturação da Fapeal, houve um período em que nós tivemos de trabalhar sem receber, no qual ele participou ativamente conosco e nos perguntou junto aos outros membros se nós aceitávamos tal condição, e foi o seu sentimento que nos fazia vestir a camisa da Fapeal e ir à luta. Era muito simples para ele associar a posição de líder e ser uma pessoa gentil, preocupada, o que repercutiu em nossa atuação. Nós compreendíamos todas as solicitações vindas da presidência, e nunca houve problemas nesta relação.

Na mudança de instituição privada para tonar-se totalmente pública, ele batalhou muito para que não houvesse a demissão dos servidores da Fapeal, e que fosse preservada. Houve a modificação no governo, entretanto o seu esforço junto ao Conselho foi fundamental para a nossa permanência”.

Maria Luíza – Assessora Técnica da Fapeal desde a sua fundação, há 25 anos

“Conheci o professor José Medeiros quando ele ainda era candidato a deputado estadual, trabalhei auxiliando-o em sua campanha na cidade de Anadia, pois meu tio era o prefeito. Ele, como político, deu enorme colaboração para a educação de Anadia, sendo inclusive homenageado posteriormente com uma escola em seu nome. Passada a política, eu soube da existência da Fapeal, no momento me encontrava desempregada e o procurei, ele recomendou me inteirar com o professor Audálio, pois a Fapeal ainda estava sendo concretizada e explicou o que seria a sua idealização. O professor foi uma peça fundamental na sua implementação, ele andava sempre com uma pasta debaixo do braço, que era toda a documentação de sua fundação, a existência da Fapeal inteira dentro de uma pasta.

A Fundação começou funcionando numa sala pequena na reitoria da Ufal, apenas o presidente, o diretor científico, o diretor administrativo e duas assistentes para cuidar do arquivo. O governo nos dizia que o projeto demandava muito dinheiro, e teve meses em que trabalhamos sem receber nada, tudo para que a Fapeal ficasse firme. O professor foi o nosso primeiro presidente, no entanto não existia formação de Conselho Superior e nem estatutos, tudo na Fapeal era emprestado, estantes e mesas. Depois de muito trabalho, ele conquistou junto à Ufal o sétimo andar do prédio Walmap para ser nossa primeira sede. Nós passamos madrugadas montando móveis e organizando tudo na semana de sua inauguração, para que o governador pudesse nos visitar e montar o primeiro grupo do Conselho Superior. Ele dizia que nós éramos os pioneiros e nos relatava o quão grande viria a ser esta Fundação, era impossível não se apaixonar pelo projeto. A partir daí os acadêmicos começaram a nos procurar, eu me lembro bem da emoção da primeira bolsa de doutorado, do primeiro auxílio que foi financiado.

Quando se tornou vice-presidente jamais faltava a nenhuma reunião do Conselho. O professor, como pessoa pública, acadêmico, médico, era extremamente solícito, e tinha um discurso maravilhoso, desempenhava sua tarefa muito bem. Quando o presidente que o sucedeu foi nomeado e ele destinado ao cargo de vice, foi fundamental para lhe passar a essência do que era a Fapeal, pois isto fazia parte dele, o integrava.

A minha admiração por ele como pessoa, político e vice-presidente da Fundação é enorme, a comunidade acadêmica de Alagoas deve muito a ele. Foi através da maneira linda de argumentar do professor José Medeiros que eu me apaixonei pela Fapeal, quando eu ouvia dele o que era a Fapeal, porque sou apaixonada por esta Casa. Apesar de estar sempre quietinha aqui na minha sala, onde ninguém me vê, isto não diminui a admiração e do amor que nutro pelo trabalho da Fundação”.

Alda Lúcia – Coordenadora de Controle, Acompanhamento e Avaliação de Projetos, trabalha na Fapeal desde a sua fundação

“O professor Medeiros era de uma postura e cavalheirismo ímpar. Foi sempre simples e muito gentil com todos. O que mais me impressionava era a preocupação que mantinha com os funcionários da Fapeal, um a um, estando presente conosco em todos os momentos, dos melhores aos mais difíceis.

Quando houve a transição para que a Fundação se tornasse pública, batalhou pelos servidores, todos foram demitidos e readmitidos em cargos comissionados, e o professor Medeiros não nos desamparou, esteve ao nosso lado nos apoiando e ajudando no que fosse preciso. A sua prioridade número um era preservar o conceito da Fapeal e preservar os funcionários que estavam junto a ele. Por isso também, eu admiro o seu discurso e a linha de pensamento que seguia, porque continuamente priorizava o trabalho que era desenvolvido, e mais ainda, ele acreditava no que viria a ser a Fapeal.

Eu nunca o vi triste ou mal humorado, tinha uma palavra amiga a quem quer que cruzasse o seu caminho nos corredores, e essa sua alegria ainda permanece aqui, na sua casa, a Fundação”.

Morgana Medeiros – Coordenadora de Desenvolvimento Institucional, trabalha na Fapeal há nove anos e é filha do Dr. José Medeiros

“A Fapeal, para o meu pai, era como uma filha, ele tinha essa Fundação com o maior amor do mundo. Quando nos juntávamos para almoçar nos fins de semana, muitas vezes ele me pedia para contar sobre como a Fundação andava, mesmo doente sempre me fazia falar porque se preocupava e sentia falta de estar na Instituição. A Fapeal era a menina dos olhos dele, desde a criação e ao longo dos anos. Quando não era mais presidente, decidiu ser vice, pois ele acreditava que ainda poderia dar alguma contribuição, era como se fosse a sua filha e ele deveria estar perto para cuidar. À sua filha Fapeal ele sempre dedicou muito amor, tempo e acompanhamento.

Eu me lembro de que o único período em que trabalhamos juntos foi quando ele teve de substituir um dos presidentes da Fapeal durante 15 dias. Fui sua secretária direta, e sua assessora também, e ele foi bastante exigente comigo, porque me pedia para ser perfeita trabalhando com ele. Eu sempre dizia que não poderia ir além, e ele respondia: ‘Mas você tem que ser excelente no seu trabalho, Morgana’. E eu saía muitas vezes daqui aborrecida porque ele queria que eu fosse perfeita, não me pedia para ser a filha dele dentro da Fapeal, mas a Morgana profissional.

Outro dia o Fabiano, bolsista da Fapeal, postou um texto sobre papai extremamente interessante, sobre onde começa e onde termina a liderança. O que constitui efetivamente um chefe é a assinatura e o fato de estar na posição de chefe, ou se o chefe é uma questão nata, você nasce com aquilo e só desenvolve ao longo do tempo e da vida, mas efetivamente você traz isso como parte do seu ser. Eu acredito que papai era um líder nato, ele não precisou que ninguém o formasse, ele nasceu formado, ele só desenvolveu as características que adquiriu ao longo da vida. Meu pai só se tornou um homem culto porque ele buscava todas estas informações, e ocupou cargos que, na verdade, não eram os cargos que o faziam, mas ele fazia os cargos que ocupava.

Quando eu era pequena, ia muito a nossa fazenda em Arapiraca passar os fins de semana para lhe fazer companhia. E não entendia porque ele me fazia andar bastante pelo pomar decorando um poema, eu até ficava muito irritada de tanto que ele me fazia decorar e repetir, e o tal poema dizia assim:

‘Amigo faz o bem, este prazer compensa a maior recompensa. Aqueles frutos saborosos que teu amigo colhe, às vezes a cantar, custaram com certeza o trabalho de alguém que sabia que nunca em sua vida os colheria, mas que nem por isso deixou de plantar’.

Então essa era a vida de papai, plantou tudo que pôde mesmo sem ter certeza que colheria. Foi isso que ele nos ensinou a vida inteira, jamais feche as portas, jamais, e plante todo o amor que você puder. Porque tudo que a gente leva dessa vida é o amor que a gente planta, e foi isso que ele foi para mim”.

A atuação de José Medeiros

José Medeiros possuía graduação em Medicina e Odontologia pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Ao longo de sua carreira, destacou-se por buscar difundir a pesquisa e a cultura dentro do estado.

Atuou como coordenador geral da V Festa do Folclore Brasileiro, foi presidente do Conselho Municipal de Cultura e secretário da Academia Alagoana de Cultura.

Na área científica, ocupou o cargo de presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional de Alagoas (Sobrames) e foi vice-presidente de algumas entidades como a Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e da Academia Alagoana de Medicina, além de coordenador do Jornal das Entidades Médicas (Cremal).

No campo literário, dedicou-se no prefácio e apresentação de 15 obras culturais, e, como autor, publicou dez obras ao longo da vida, sendo a última Reflexões sobre o ser e o viver, em 2009.

Na Ufal, foi professor de Microbiologia e Imunologia, diretor do Centro de Ciências Biológicas e pró-Reitor nas áreas estudantil e cultural. Atuou como presidente na Fundação Governador Lamenha Filho. Foi secretário de Educação e Cultura e de Saúde do Estado de Alagoas. Foi, ainda, diretor em diversas casas de saúde em Maceió, como o Sanatório General Severiano da Fonseca e o Hospital de Pronto-Socorro.

Na função de deputado estadual, foi presidente da Comissão Constituinte e, por meio desse posto, trabalhou na elaboração da Constituição Estadual de 1989, sendo autor também da Emenda Complementar que fundou a Fapeal.

O professor Dr. José Medeiros foi o primeiro presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, quando o cargo ainda não era remunerado, e também foi vice-presidente do Conselho Superior desta instituição por 21 anos, também sem remuneração. Durante todo esse tempo, colaborou com a difusão e o aprimoramento do estudo científico dentro do estado e será sempre lembrado por isso.