Notícias

Fapeal apoia estudo sobre nova abordagem em comportamentos do autismo

Pesquisa foi apresentada recentemente em congresso nos EUA

1
Foto: Tárcila Cabral

O projeto intitulado “Os efeitos do ensino do tato-múltiplo na emergência de comportamentos de ouvinte e de categorização em crianças com autismo”  vem, de forma inédita em Alagoas, tentar entender melhor a aprendizagem de crianças autistas, trabalhando a interface entre percepção e educação.

A equipe, formada pela pesquisadora Daniela Ribeiro, doutora em Educação Especial e pós-doutorado em Psicologia, e pelas bolsistas Thaís Bandeira e Rayssa Sarmento, graduandas em Pedagogia, construiu um estudo que traça linhas de pesquisa no emprego do tato.

Iniciada em 2014, a pesquisa baseia-se na percepção autista da linguagem e explora a função de fazer contato com o ambiente, buscando inserir as pessoas no espaço/mundo.

Esta fase corresponde à renovação do Programa de Iniciação Científica (Pibic), que é desenvolvido na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), que financiou uma das bolsistas.

O Pibic atual é fruto de uma parceria internacional elaborada em parceria com o professor Caio Miguel, diretor do programa de Pós-Graduação em Análise do Comportamento da California State University, em Sacramento, EUA.

A partir deste trabalho, foram derivadas várias diretrizes, sendo o estudo comportamental com o autismo uma delas. As bolsistas estão inseridas no estudo e realizam duas análises, uma já concluída, e outra em andamento.

O trabalho é desenvolvido dentro de uma instituição para crianças com Transtornos do Espectro Autista (TEA) em Maceió. O espaço, mantido por profissionais da Apae existe desde 2014, e é chamado de Centro Unificado de Integração e Desenvolvimento do Autista (Cuida).

O que está sendo feito é a visitação para conhecer melhor as crianças e concluir as análises da pesquisa, apresentada na 42º Convenção Anual da Associação Internacional de Análise do Comportamento, realizada em maio, em Chicago, EUA.

Comportamentos complexos

A análise do comportamento é uma das áreas em que as crianças com autismo apresentam déficits, que compreendem três complexidades: comunicação, interação social e padrões de comportamentos restritos. Esta categorização faz parte dos novos comportamentos emergenciais do autismo, que é estudado de forma especializada pelo grupo.

Outra ação a ser analisada é a de ouvinte. Esta última corresponde à linguagem receptiva. As pessoas estão acostumadas tradicionalmente a pensar que, na infância, o aprendizado das palavras como falante pode também ser estendido à condição de ouvinte, gravando automaticamente.

 Isto ocorre apenas para os jovens de desenvolvimento típico, porém, para os que apresentam autismo, dizer o nome do objeto não quer dizer que, quando eles ouvirem novamente, saberão relacionar a palavra à coisa.

 Implantação na prática

 Para garantir a efetividade dos métodos em crianças com problemas de categorização foram feitas algumas avaliações Quando o grupo nota que elas têm o diagnóstico em questão, os planos de aprendizagem são seguidos e, ao atingir a etapa final, os testes são refeitos, para comparar os resultados iniciais e finais.

Nesse sentido, o projeto já assinala ótimos resultados. A partir das comparações foi notado que o conteúdo curricular do ensino básico, que era para ser conhecido, não foi identificado.

Devido à complexidade de sua condição, os pequenos acabam colocando mais elementos dentro da mesma categoria, pois um de seus bloqueios de linguagem é a dificuldade em atentar para detalhes relevantes de um objeto.

A equipe, então, explorou o ensino de mapas apresentando os estados e as regiões do país, possibilitando dois nomes ao mesmo objeto devido à múltipla funcionalidade destes elementos.

“O nosso objetivo é a caracterização. Nós vamos verificar se, após ensinarmos o nome do objeto e da categoria, se esta criança vai ainda colocá-los na mesma categoria. Ou seja, se depois de ver o mapa ela conseguirá atentar para as regiões e saber que os estados também pertencem a cada região”, cita a professora.

“Como eles têm dificuldade de interação, a pesquisa vai auxiliá-los na integração social. Nós ensinamos a categorizar, pois certas demandas de estudo a escola não consegue atender. Desta forma, eles aprendem o que são os mapas, qual a sua região, e que eles próprios estão inseridos no Nordeste. O trabalho contribui com a própria linguagem e comunicação”, complementa Thais Bandeira, bolsista do estudo pela Fapeal.

Na implementação do estudo, as alunas citam que o olhar de atuação deve corresponder ao caráter único de cada um dos indivíduos. “O estudo é inovador porque estimula um ensino individualizado, trabalhando com uma criança por vez. O mesmo procedimento pode até ser aplicado com outras crianças, mas deve-se respeitar as características individuais delas”, explica Rayssa Sarmento, bolsista do projeto por intermédio do CNPq.

Hoje, os alunos já assimilam que o que estão vendo são mapas e que também representam lugares diferentes. “Os meninos agora estão mais atentos, espertos aos apelos, entenderam toda a dinâmica da pesquisa, já conseguem falar e até prever nossas instruções, e isto demonstra o sucesso do programa”, ressalta a orientadora.

Primeiros Resultados

Com o emprego dos métodos, foi percebido que os estímulos estão sendo respondidos de forma produtiva. As bolsistas estão concluindo a coleta de dados e realizando a fase inicial de ensino e categorização. Uma vez que as crianças aprendem a categorizar, a interação com as coisas do mundo fica mais eficiente.

O sucesso do programa está nas técnicas de ensino, entendendo que a família e os parentes repreendem o comportamento do autista quando ele classifica um objeto de forma errônea. Segundo a equipe, isto afeta a autoestima e a motivação, ao invés de transformar o processo para se obter uma qualidade melhor, parabenizando os acertos e aprimorando a educação através da apresentação de mais objetos.

O grupo estimula a atenção e exercita as dificuldades de relacionamento. A cada encontro é pedido que as crianças olhem nos olhos, conversem explorando a linguagem, e todo acerto é retribuído para auxiliar no procedimento.

Planos futuros

 Com a expectativa dos dados formados e os resultados de aprendizagem completos, a pesquisa pode ser alçada a testes de ensino que carreguem as técnicas estudadas. Concluindo-se o projeto, a proposta é publicar o produto final para tentar replicar o tema em mais espaços da comunidade científica.

 Há também a proposta de estruturar um programa em âmbito de extensão. A especialista visa contribuir para a formação de pais e professores, fornecendo uma capacitação por intermédio dos resultados derivados das pesquisas.

 A finalidade é dar alcance ao projeto, não deixando os estudos apenas na área acadêmica. O maior impacto poderá vir através da instrução das pessoas que convivem com os jovens diariamente, possibilitando uma estrutura condizente às necessidades.