“Pescadores de Mel” é o projeto social da Apícola Fernão velho, beneficiada pelo Tecnova
Como empreender hoje em Alagoas? No último ano esta pergunta não foi solucionada apenas no campo teórico, mas embasada por muito trabalho e pesquisa científica. Um projeto desenvolvido no município de Marechal Deodoro, busca resgatar as características e aptidões naturais dos moradores e empregá-las na exploração inovadora de um produto, a Própolis Vermelha de Alagoas.
O interesse é nutrido há 15 anos, quando estudiosos descobriram que nesta região da planície litorânea e lagunar de Alagoas se produzia uma própolis diferenciada. O item era um antibiótico natural das abelhas, e com tais aspectos que a caracterizavam como própolis vermelha, que só poderia ser encontrado em alguns locais específicos no mundo. O produto já é objeto de estudo de diversas universidades e centros acadêmicos, no Japão, Estados Unidos, Canadá, e Alemanha, devido a suas propriedades farmacêuticas e cosméticas. A partir destas descobertas, o agrônomo Mario Calheiros, que é especialista na temática, tem se voltado a estudos nesta linha de elaboração.
Através de uma relação próxima com a academia, ele ficou motivado pela oportunidade em otimizar a produção. Foi firmada então uma parceria entre órgãos do Estado e algumas empresas privadas. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), atenta à relevância dos estudos, prospectou recursos por intermédio de dois editais específicos para a atividade de inovação tecnológica, o PAPPE Integração e Tecnova Alagoas. Garantidos os apoios, foi possível viabilizar em 2010 a associação destes agentes que promoviam a capacitação de produtores na cadeia produtiva. Era iniciado os Pescadores de Mel.
“A instrução feita junto aos produtores locais, proporciona atividades além do cunho prático de criação das abelhas, mas organizando dinâmicas de empreendedorismo e gestão”. Mário Calheiros cita que, foi intensificada a forma de produção, agregando o conhecimento da universidade, utilizando parcerias com os gestores do Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), e ampliando a atuação das pesquisas financiadas pela Fapeal.
Como mecanismo transformador, o projeto mudou a vida dos moradores de Marechal Deodoro. Um exemplo deste fato é o produtor José Izaías dos Santos, que enquanto aluno, entrou na universidade e iniciou a prática da criação de abelhas. Como o estudante residia em um espaço que contava com uma rede vasta de apicultores, ele viu ali uma oportunidade de aprofundar-se no tema. Com o tempo, o encantamento foi natural e cativante. Nos laboratórios da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o aluno de bioquímica passou a analisar a apicultura e embasou seu trabalho de conclusão de curso na Própolis Vermelha de Alagoas, com pesquisas referentes à sazonalidade, o único no Brasil realizado em dois anos. José Izaías analisava a constituição química da Própolis Vermelha de Alagoas mensalmente, para saber se os fatores físicos alteravam a fórmula química do mel.
Quando se formou, o bioquímico encontrou no projeto uma forma de expandir seus estudos e aprimorar a eficácia local. Com os novos estudos e metodologias, o número de materiais e colmeias da região foi ampliado e o espaço necessitou ser expandido. O produtor destaca que, os ganhos que se tinham anteriormente foram dobrados, e neste ano, a meta é dobrar o índice já alçando com o programa.
“Na nossa região eu costumava trabalhar com meu irmão, e outros apicultores amigos. Depois de juntarmos o pessoal da comunidade, nós conseguimos integrar apicultores que tinham até desistido da prática, mas que se envolveram com a nova proposta em transformar o método. Havia apicultor que chegou a ficar sem nenhuma caixa e hoje, já possui cerca de 10 caixas operantes, o que mostra como trabalho tem dado frutos.”
O programa na cidade é recente, tem cerca de um ano e meio, porém sinalizando crescimentos qualitativos. O projeto já era exitoso na capital, o que possibilitou a expansão e, nesta semana, foram realizados os primeiros encontros de apresentação de resultados parciais da pesquisa.
Segundo Mário Calheiros, o retorno é importante para garantir que a efetividade do trabalho seja contínua e que os especialistas estejam sempre atentos a estas transições. Empreender em Alagoas nunca contou com uma fórmula tão eficaz.