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Prêmio de Jornalismo: Especialista da USP traz dicas para quem vai participar

Inscrições seguem abertas até o dia 31 de maio

Professor Ricardo Alexino. Auditório do Maceió Shopping
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O Prêmio de Jornalismo Científico José Marques de Melo segue com inscrições abertas até o dia 31 de maio. O Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e da Fapeal, já promoveu duas capacitações para os interessados em produzir material jornalístico sobre Ciência, Tecnologia e Inovação, em novembro de 2016 e a última em 19 de março deste ano.

“Sabemos que não é uma tarefa fácil. Exige uma dedicação especial do profissional do jornalismo, abordar temas científicos, ou mesmo relacionados à inovação. Mas estou certo de que com as capacitações que promovemos, trazendo palestrantes, estamos oferecendo um bom apoio para que tenhamos ainda este ano grandes trabalhos premiados”, explica o secretário de CT&I, Pablo Viana.

 Um destes palestrantes foi o pesquisador Ricardo Alexino Ferreira, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), com vasta atuação em jornalismo científico no rádio.

 Partindo do básico, ele começa alertando que nas reportagens voltadas à ciência, da mesma maneira que em relação aos outros assuntos, o sensacionalismo não é uma boa ideia. “O jornalista muitas vezes acha que a espetacularização da informação vai garantir a audiência, mas assim ele pode trazer danos sociais irreparáveis, pânico, precipitações”.  Por exemplo, numa matéria sobre desastres naturais, como tsunamis ou meteoros, o repórter deve ter cuidado ao enfatizar algo que se trata apenas de hipóteses e probabilidades estatísticas.

 Ouvindo o outro lado

Mais um aspecto relevante comentado pelo radialista, que entrevista cientistas de diversas áreas em seu programa na Rádio USP, é o de como lidar com a posição de “autoridade” que o pesquisador adquire em um assunto. O fato de uma pesquisa fornecer dados consolidados não significa que abordagens e opiniões contraditórias devam ficar de fora da pauta:

 “Para cobrir o contraditório, não necessariamente precisa ser alguém que está falando contra aquilo que está sendo colocado, mas outros pontos de vista, mesmo falando algo que se aproxima muito da fonte principal. É importante ter mais de uma fonte, não só por constar, mas para contribuir para que a matéria possa se tornar mais robusta”, explica.

 Alexino ilustra com o exemplo hipotético de uma matéria onde as fontes primárias sejam de ciências biológicas ou geológicas. O repórter poderia ouvir um pesquisador de ciências humanas, com credenciais acadêmicas do mesmo nível.

 “Um sociólogo ou antropólogo poderiam comentar como aéreas que ficam alagadas ou desérticas interferem nas culturas humanas. Então, quanto mais profissionais e mais pesquisadores ele traz para dentro do debate, mais robusta a pauta dele vai ficando”, exemplifica o professor.

 Contexto

Para Alexino, outro fator que faz toda diferença é que o repórter entenda os métodos que os cientistas utilizam para chegar as suas conclusões. “O cidadão não pode achar que a sua fonte fez uma magia e surgiu o resultado da pesquisa”, aponta. Ele afirma que para o jornalista que cobre CT&I, formar o próprio repertório é fundamental.

 “Eu gosto muito de pegar aquilo que a pessoa já produziu, um artigo ou algo assim, que dá base para a entrevista. Se você vai entrevistar alguém que fez uma pesquisa fechada básica, mais dura, se você leu o material isso possibilita um diálogo maior com a sua fonte”.

 “De ponta”

Outra coisa, é que mesmo nas pautas de inovação é necessário conhecer um pouco de História. Seja história da ciência, seja a história de uma solução tecnológica.

 “Todos correm atrás do que é novo e, ao final, todos estão falando sobre a mesma pesquisa. Então, eu acho que às vezes vale usar a História da Ciência”, discorre Alexino. Neste sentido, pode acontecer que o resultado mais atual nem sempre seja o mais relevante, ou que o próprio desenrolar histórico de uma descoberta faça render a matéria ou se torne o seu lado mais interessante”.

 O ético…

Muito se fala em “objeto de pesquisa”, e o professor Ricardo traz um conceito útil para que o jornalista ajuste o foco de sua própria perspectiva. “Suponhamos que o pesquisador vai desenvolver pesquisa sobre a população de moradores de rua. É necessário ele pensar do ponto de vista ético. Pessoas não são objetos. Pessoas são pessoas. Elas são sujeitos, então é mais interessante esse jornalista falar em sujeito da pesquisa”.

 Ele defende que isto é importante porque, às vezes, é possível para o comunicador humanizar uma situação que para o método científico, traduz-se de maneira “fria e distante”. O ponto é que apesar de pesquisas com gente utilizarem grupos bem definidos e métodos claros, seres humanos podem mudar de uma hora para outra. E, neste caso, os resultados do estudo também? Cabe ao jornalista indagar.

 … e o estético.

“Matérias de ciências não ser podem minúsculas, tipo 700 caracteres já resolve”. O ideal é utilizar recursos mais didáticos para aproveitar a complexidade característica de certos temas, como boxes, recursos gráficos, imagens e infográficos. De acordo com Ricardo Alexino, tudo isso auxilia jornalistas e editores a desenvolverem o contexto.

 O Prêmio de Jornalismo Científico José Marques de Melo é uma iniciativa da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), em parceria com o Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (SindJornal) e o Maceió Shopping.  A 1ª edição (2016-2017) inclui uma categoria especial para contemplar o melhor trabalho histórico com pauta sobre ciência, tecnologia e inovação, dentro das comemorações pelo Bicentenário de Alagoas. Mais informações em http://www.premiojornalismocientifico.al.gov.br

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Secretário Pablo Viana e professor Ricardo Alexino Ferreira