O projeto é financiado pela Fapeal e desenvolve uma dieta para alimentação de ovinos, com custos mais baixos e desempenho superior
Um dos maiores desafios enfrentados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) era a promoção de incentivos à fixação de pesquisadores no estado. A região sofria drásticas perdas de mestres e doutores para outras universidades e centros de pesquisa mais equipados. Isto se tornou, então, um dos principais alvos da atual gestão.
Neste contexto, em 2016, foi aportado um edital novo, formulado com categorias específicas que estimulassem a vinda de novos cientistas e que encorajassem os formados a permanecerem: Esta chamada do Programa do Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional (PDCR) surpreendentemente recebeu 64 inscrições de todo o Brasil, para disputar as 20 vagas de bolsas para doutores.
As propostas deviam apresentar um caráter funcional, que fortificasse o sistema de pós-graduação em Alagoas. Entre os projetos, um em especial chamou a atenção, por unir a academia à praticidade das necessidades da vida na zona rural.
O estudo em questão foi submetido pela professora Mariah Tenório, que trabalhava como docente substituta na Universidade Federal de Alagoas (Ufal), campus Arapiraca. Graças ao apoio, a doutora em Zootecnia pôde dar continuidade à docência e executar um estudo inédito: “Avaliação da pastagem e do desempenho animal suplementados com palma forrageira e feno da parte aérea da mandioca em época seca no agreste”.
Ela propôs uma linha que englobasse a área de forragem e culturas, para que os alunos pudessem explorar temas relevantes ao interior alagoano. A parte complexa era fazer experimentos sem recursos específicos para isso. Mas através do PDCR, a oportunidade surgiu: “Esta pesquisa envolve uma cadeia enorme, desde o homem rural ao científico. Os programas governamentais devem focar nestes apoios. Eles são importantes para o pesquisador, alunos, docentes e, principalmente, para o homem do campo”, frisa a estudiosa.
Potencialidades locais
Neste ensejo, em dez meses, o trabalho envolveu mais dois professores do Centro de Estudos Superiores de Maceió (Cesmac), três alunos de iniciação científica da Ufal e um mestrando. O grupo tinha conhecimento de que em Arapiraca existia uma larga produção de mandioca, mas que toda a parte aérea da raiz era sempre descartada, como um subproduto. Lendo trabalhos acerca das propriedades envolvidas, os pesquisadores construíram um processo para o aproveitamento correto do produto, convertendo-o para a alimentação animal:
“Primeiro, o feno da mandioca deve ser desidratado para se extrair o ácido cianídrico, porque ele é tóxico. Posteriormente, o composto restante é testado para incremento na nutrição dos ruminantes. Além disso, a pesquisa compara a utilização das plantas forrageiras”, frisa Mariah Tenório. Esta comparação foi feita porque ainda se utiliza tifton em grande escala na alimentação de animais, uma espécie de gramínea que está sendo adaptada ao agreste.
Produzindo um enriquecimento da parte aérea da mandioca, os resultados seriam avaliados pensando também no uso do tifton e da palma. As análises feitas compararam a utilização de algumas dietas: apenas o feno de tifton; apenas a mandioca; a mandioca combinada ao feno de tifton; a mandioca combinada à palma forrageira.
Em relação aos animais, foram 15 dias de adaptação às dietas, mais 75 dias de experimentação após período de adaptação, totalizando 90 dias experimentais. A equipe observou todas as medidas do corpo dos animais, que envolvem comprimento e altura de garupa, entre outras, para configurar se tais aplicações tiveram êxito. Verificou-se o animal vivo, a formação do corpo e, depois do abate em um frigorífico especializado, foi explorada a qualidade da carcaça e da carne.
Pesquisa na prática
Em todas as propostas mensuradas a partir da parte aérea da mandioca, comprovou-se um aproveitamento melhor, com resultados superiores e a baixo custo de produção. Isto agrega valor aos cortes comerciais da carne, sem contar na economia ao produtor, uma vez que os compostos da mandioca são obtidos a um custo bem menor do que o fardo de tifton.
Em relação ao Nordeste, o estudo emplaca uma melhoria considerável de resultados no peso dos animais e fatores qualitativos. Foram analisados padrões superiores em quesitos como a quantidade em volume, peso e aproveitamento da carne, comprimento, vísceras e, inclusive, peso dos componentes carcaça e não carcaça.
A primeira fase da pesquisa foi concluída e os pesquisadores estão num processo de divulgação dos resultados científicos. Estes dados foram publicados e apresentados no Zootec, o maior congresso de zootecnia do Brasil. Dando continuidade à segunda fase experimental, agora em tempos chuvosos, foi avaliado o desenvolvimento de cultivar as forrageiras para substituir o tifton, selecionando e empregando plantas melhoradas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Elas vêm diretamente da África e deverão se adaptar ao agreste para acrescentar à alimentação animal, barateando custos e aumentando a quantidade de volumoso.
Estudos efetivos no interior de Alagoas
O estudo atende ao interesse educacional de tornar as aulas mais práticas para a rotina no campo. Estruturando o trabalho, os alunos já conseguem implementar as técnicas em suas próprias áreas de cultivo, ou repassam este conhecimento em propriedades da região. A professora frisa que, o interesse é promover um projeto de extensão mais científico, que oportunize dias de campo com alunos e a comunidade.
Estes testes e boa parte da pesquisa, só foram viabilizados através dos incentivos do Governo de Alagoas através do PDCR da Fapeal. O apoio permitiu a compra dos animais e sua manutenção com rações diferenciadas, para a maior variabilidade, o que não seria possível sem o investimento destes recursos.
“Sem o auxílio, a universidade não teria condições de comprar todos os 35 ruminantes e mantê-los mensalmente. A pesquisa fortalece a pós-graduação e graduação. Inclusive, esse PDCR vai resultar em três TCCs. Ele eleva a qualidade do curso”, alega a doutora.
Os animais utilizados são mestiços, não possuem nenhum melhoramento genético e são assistidos de todas as necessidades veterinárias, o que auxilia nos bons resultados obtidos.
Perspectivas Futuras
Com a conclusão do projeto o grupo se voltará a um programa de melhoramento genético de forrageiras, compondo um banco das plantas. Mariah Tenório verifica ainda se há condições de realizar outros estudos relacionados à parte aérea da mandioca, em que não seja necessário tanto esforço para se retirar o ácido, otimizando e simplificando o processo.