Com o apoio da Fapeal, pesquisadores desenvolveram uma técnica de incremento na qualidade das sementes de hortaliças
Investir em pesquisa nas ciências agrárias hoje não é uma prática que deve estar pautada apenas no cultivo. Se pensarmos que o Brasil é um país dependente de sua potencialidade agrícola, então a atenção à qualidade das demandas por melhoramentos genéticos, técnicas de cultivo e manejo, e mecanismos de transporte até a venda deveriam estar presentes desde o início.
A maior parte de todas as culturas de importância econômica são produzidas a partir de sementes. Neste setor, o Brasil representa o 3º maior produtor mundial de frutas com 45 milhões de toneladas ao ano, quanto aos grãos, a safra de 2015/2016 alcançou 196,5 milhões de toneladas e se estima o alcance de 255 milhões em dez anos, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
Compreendendo estes fatores, o Governo de Alagoas, por intermédio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), concedeu auxílio a uma pesquisa de alto nível, que aumenta o desempenho de sementes.
A ideia surgiu nos Estados Unidos, enquanto a pesquisadora Clíssia Barboza desenvolvia seu doutorado na Ohio State University (OSU). As análises obtidas possibilitaram a criação de uma técnica de incremento na qualidade das sementes de hortaliças. O procedimento era inédito, pois as técnicas passaram a utilizar um hormônio totalmente novo, mas que já assinalava ser eficiente.
No Brasil, o trabalho começou a ser inserido numa cooperação com a Universidade de São Paulo (USP). Não obstante, Alagoas também toma um rumo pioneiro neste cenário e possui o segundo centro no país que passa a estudar a técnica, na Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Através do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (PDCR), fomentado pela Fapeal, a professora Clíssia Barboza teve a oportunidade de dar continuidade local ao projeto com sua equipe, envolvendo um aluno de doutorado, um de mestrado e dois de iniciação científica.
A técnica
O estudo foi iniciado com base em sementes de pimentão. Os dados mostraram que, se utilizada a técnica, os compostos apresentariam melhor qualidade e, se colocados em prática no campo, forneceriam uma uniformidade de germinação superior e uma produção maior. Isto ocorre porque a pesquisa prepara as futuras plantas para que sejam mais tolerantes a condições de estresse, por exemplo, se o produtor encontrar uma situação de seca a semente já estará preparada para esta exposição a temperaturas elevadas.
“Nós estamos fazendo uma associação de reguladores de plantas, com base num hormônio, o qual foi verificado que apresenta inúmeras indicações de eficácia, dentre elas o aumento na germinação e germinação uniforme, com desempenho superior das plantas. Independentemente das condições, há ganhos”, frisa a doutora Clíssia Barboza.
O procedimento em questão é chamado de condicionamento fisiológico de sementes. O foco partiu das sementes de hortaliça porque elas possuem particularidades diferentes de outras plantas, especialmente a germinação lenta.
A pesquisa simula em laboratório e desenvolve análises de como as sementes se comportam com e sem o procedimento. A particularidade da tolerância às condições adversas do ambiente acontece, pois o hormônio 24-epibrassinolídeo permite que as enzimas antioxidantes eliminem as substâncias tóxicas de dentro da semente.
Em grãos tradicionais encontrados na mesma situação, nota-se a perca desta qualidade porque eles são facilmente suscetíveis a reações internas. A técnica mune-se do hormônio que ativa enzimas que degradam substâncias tóxicas e geram compostos limpos. Assim, a planta passa a crescer mais resistente. O sucesso do trabalho é medido através das avaliações de germinação, do comprimento de plantas e das enzimas.
O procedimento, segundo a profissional, também pode ser estendido à aplicação em outros campos de grãos como soja, feijão, arroz, etc. Na fase atual, estão sendo trabalhadas sementes de cenoura, mas serão verificados ainda neste projeto, alface e tomate.
O Programa
Os estudos são elaborados no Laboratório de Propagação de Plantas do Centro de Ciências Agrárias da Ufal. Esta proposta está sendo produzida em referência às necessidades e problemáticas enfrentadas pelos agricultores de Arapiraca. Eles entram em contato com a equipe da Ufal informando as circunstâncias e a condição de evolução, então os pesquisadores partem para a análise, explorando o quadro com a técnica dentro da universidade.
“O estudo em Alagoas só foi possível através do PDCR, porque são técnicas caras, de materiais mais dispendiosos, então nós não teríamos naturalmente condições de trazer ao nosso estado a pesquisa sem o apoio do programa”, explica a especialista.
Alternativa para a economia alagoana
Outro complexo vivido pelos agricultores é o fator do transplantio (transporte de mudas ou sementes), que envolve custos e vulnerabilidade em torno destes materiais. Caso utilizem no campo as sementes tradicionais, eles não atingirão a produção esperada, então para ter êxito no cultivo são plantadas sementes a mais.
Posteriormente, as plantas são transplantadas, porém com custos mais elevados devido aos gastos com sementes e mão-de-obra. Pensando no método reproduzido em laboratório, esta prática do transplantio seria dispensada, afinal as sementes estariam enriquecidas e poderiam ser plantadas diretamente na terra. Não haveria encargos com alto número de sementes, transplantio e mão-de-obra, além da produção superior. Os resultados são vistos não apenas no rendimento, mas no desenvolvimento da planta e na qualidade da hortaliça, com um desempenho maior de concentração de proteínas, vitaminas, e a presença de lipídios ricos em ômega 3, todos já comprovados.
É importante frisar que a região, até pouco tempo atrás, tinha como principal cultura o fumo, que contribuía para a economia local, porém a demanda por este produto caiu, levando à substituição por outros plantios. A comunidade então optou pelo cultivo das hortaliças por conta do retorno rápido e devido ao consumo local, que tem se intensificado com a produção desde este período .
A técnica, apesar de estruturada de acordo com a realidade do agreste é totalmente flexível. Ela prepara as sementes para situações adversas, o que significa que pode ser expandida para outras regiões facilmente, pois as sementes possuem esta característica de adaptação.
Quando a pesquisa for concluída, a ideia é dar continuidade à proposta, promovendo projetos de extensão e colaborações. O intuito é distribuir para comercialização estes materiais de alta qualidade, tornando o procedimento próximo e prático para o agricultor:
“O produtor terá acesso de forma facilitada, a sementes enriquecidas e que diminuirão drasticamente os custos e o trabalho de produção. A pesquisa contribui economicamente”, pondera a doutora em Agronomia