Reunião multidisciplinar contou com especialistas da Ufal e representante do Ministério Público
Uma situação complexa, inclusive em seu ineditismo. Esse foi o ponto de partida em comum para doze especialistas convidados para uma reunião multidisciplinar com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), para discutir a situação do bairro do Pinheiro.Desde março de 2018, quando houve um tremor de terra de magnitude 2.5 na escala Richter, ainda inexplicado, o local apresenta rachaduras em imóveis e no asfalto e afundamentos no solo, situação que vem se agravando neste ano.
O objetivo do encontro foi formular pontos de ação para que os cientistas possam colaborar eficazmente com os demais setores atuantes na situação, especialmente os órgãos governamentais e técnicos e a comunidade envolvida.
“A Fapeal é um órgão do Governo do Estado que tem uma interlocução com os pesquisadores e estamos em posição de promover as articulações para pôr o conhecimento a serviço desse problema. Alguns pontos de ação estão sendo formulados”, esclarece o professor Fábio Guedes, diretor-presidente da Fundação.
Consenso
A reunião contou com a presença de doutores nas áreas de Engenharia, Geologia, Economia, Administração e Psicologia, ligados à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), além de representantes do Ministério Público Estadual (MPE/AL).
Um ponto consensual foi a importância das informações do relatório a ser divulgado pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, que tem as atribuições de Serviço Geológico do Brasil.
A doutora em Geociências Rochana Lima fez uma apresentação básica da geologia da região e explicou que as causas dos eventos correntes no Pinheiro só podem ser explanadas através de estudos feitos em profundidades entre 900m e 1,1 km, e é justamente isso o que se espera das análises feitas pela CPRM, que possui os equipamentos necessários para se chegar a estes pontos. “É um processo novo na geologia de Maceió”, aponta a pesquisadora.
No entanto, todos os presentes levantaram preocupação com a qualidade das informações circulando publicamente sobre o assunto, especialmente as de caráter especulativo, tanto na imprensa quanto em redes sociais. “Temos de que construir uma base de conhecimento técnico-científico para que esse problema tenha um melhor direcionamento”, pontuou o professor Fábio Guedes.
O engenheiro Valmir Pedrosa, doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, também reforçou a necessidade de que “o relatório final seja comunicado num formato que ajude decisores a tomar decisões”.
Nesse caso, a comunicação tem que ser clara o suficiente tanto para o cidadão que precisa decidir sobre ficar no bairro ou não, quanto para os órgãos dos três poderes que precisam cuidar de questões emergenciais e de planejamento a curto, médio e longo prazo, como ocupações e desocupações, infraestrutura, saneamento e economia.
Apoio
“É uma situação nova e complexa, mas o Instituto de Psicologia da Ufal já colocou o serviço de psicologia à disposição da sociedade, e a gente poderá atuar em diversas frentes de trabalho, de acordo com os grupos da comunidade”, adianta o professor Jefferson Bernardes, atual diretor do Instituto.
Mencionando sua participação em reunião do Conselho Regional de Psicologia, localizado nos entornos do Pinheiro, a professora Maria Auxiliadora Ribeiro, coordenadora do mestrado em psicologia da Ufal, adiantou que já está havendo uma aproximação cientificamente orientada com a comunidade:
“Primeiro vamos entender quais são as demandas que essa comunidade tem. Não vamos oferecer o que a gente acha que eles precisam, mas eles que vão nos dizer o tipo de contribuição que estão precisando”, comenta a pesquisadora.
Articulação
O Ministério Público foi representado pelo promotor Adriano Jorge Correia Lima, que já tomou parte em duas ocasiões de diálogo com a Ufal e sua pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação, visando cooperação técnica na questão do Pinheiro, em 25 e 31 de janeiro. Em parceria com o MPE/AL, a universidade vai realizar um workshop sobre o tema em 14 de fevereiro.
Além dos já mencionados, também participaram da reunião na Fapeal os pesquisadores Adeilto Soares, Alexandre Lima, Eduardo Setton, Juliane Marques, Luciana Vieira e Vladimir Souza, integrantes do Centro de Tecnologia (CTEC Ufal) e Gustavo Madeiro, diretor da Faculdade de Economia, Gestão e Contabilidade (Feac Ufal).