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Fapeal em Revista apresenta: Um menino de ouros

Leonardo Marinho deixou o Instituto Federal de Alagoas com mais de 30 troféus e medalhas conquistadas e almeja futuro como pesquisador na área da Matemática

Deriky Pereira com Jhonathan Pino – jornalista colaborador

Conheça mais sobre a história do nosso Menino de Ouros, Leonardo Marinho, ex-Ifal que chegou à Ufal em busca de realizar o sonho de ser pesquisador na área da Matemática (Foto – Jeroan Herculano/Ascom Fapeal)

Ele tem uma lista enorme de premiações em eventos nacionais. Somente em 2017, foi reconhecido onze vezes por eventos como olimpíadas de Matemática e mostras de foguetes. Das últimas conquistas, os ouros na Olimpíada Canguru de Matemática, organizada pela instituição francesa Kangourou sans Frontières, na 8ª Mostra Brasileira de Foguetes e na 20ª Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) – esses dois últimos organizados pela Sociedade Brasileira de Astronomia – além de outros três ouros na 13ª Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e na Olimpíada Alagoana de Matemática (OAM), nos níveis Ensino Médio e Universitário.

Ufa! É muita coisa, hein? Mas ainda não acabou, pelo contrário, estamos apenas no início. Na nossa matéria de capa, vamos conhecer um pouco mais sobre Leonardo Marinho e caminhar pela jornada desse jovem pesquisador rumo à realização de um de seus sonhos: o de se tornar matemático.  Nesse percurso, é possível que na casa dele já não exista mais espaços na parede para pendurar os mais de 30 troféus e medalhas conquistadas nos últimos quatro anos, período em que esteve no Instituto Federal de Alagoas (Ifal) como aluno do Campus Maceió.

E foi no curso de Edificações que ele disse ter encontrado o seu caminho para, de lá, visualizar o seu futuro: a Matemática. “O Leo, já no primeiro bloco de aula, já se mostrava um aluno especial”, comentou Valdir Soares, professor de Matemática do Campus Maceió, ao lembrar que tudo isso começou numa sala preparatória para o seu primeiro desafio, lá atrás, em 2013. Naquele ano, Leonardo conquistaria a Menção Honrosa da 9ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), organizada pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa).

Quadro informa quantidade de troféus, medalhas e menções honrosas conquistadas pelo nosso Menino de Ouros; número já passa de 30

De lá para cá foram inúmeras as aulas de preparação. À frente delas, estavam os professores Valdir, Gilmar e Anderson, ocorrendo semanalmente às quintas-feiras, mas podendo se estender para as sextas. De acordo com Valdir, esses mesmos professores já haviam participado das olimpíadas quando estavam no Ensino Médio e essa seria uma razão pelo qual muitos dos docentes buscariam participar delas; a outra razão seria a possibilidade de fazer pesquisas com o auxílio dos alunos.

“O que a Olimpíada promove é uma pesquisa numa escala menor. Isso já é um enorme benefício, passa a ter um conceito de autodidata. O aluno está sozinho e lê a matéria sozinho. O docente é o fio condutor, mas o esforço é realmente do aluno. Então, em um primeiro aspecto, o benefício é promover uma pesquisa numa escala menor, você consegue identificar boas ideias, tratar problemas de ordem da Matemática para fazer pesquisas. Aquele professor que é pesquisador, acaba tendo um celeiro de bons alunos, que acabam, num tempo muito rápido, virando pesquisadores nas Universidade”, enfatizou Valdir.

Como tudo começou…

Toda essa história meio que começou com outro docente do Ifal, o hoje aposentado e professor voluntário do Instituto, Carlos Argolo. Foi ele quem trouxe para Alagoas a gana pelo desafio das olimpíadas e preparou as primeiras gerações. Foi ele também quem primeiro começou a realizar as primeiras mostras de foguetes e desenvolver nos alunos o gosto pela Astronomia. E foi uma competição destas que levou Leonardo à Bulgária, para participar do International Tournament of Young Mathematicians (ITYM), em 2015, juntamente com uma equipe do Ifal.

Leonardo Marinho conversou com nossa equipe sobre a sua participação na Jornada de Foguetes no Rio de Janeiro (Foto – Naísia Xavier/Ascom Fapeal)

“É uma competição que reúne equipes de vários países. Cada ano é proposto uma lista de problemas, alguns para gerar discussões, e as equipes têm até o dia do evento para tentar resolver o máximo possível. Então lá a competição se dá a partir de debates e confrontos entre as equipes. Participar desta competição foi muito importante para mim, pois me motivou a continuar estudando, principalmente para as olimpíadas científicas”, explicou Leonardo.

Foi também com o professor Argolo que Leonardo começou a fazer parte de um projeto de extensão, o Programa Independente Matemática Integrada (PIMI), desenvolvido nas redes estaduais e municipais de educação – ele, inclusive, atua dando aulas na escola em que estudava. E seja como monitor de Matemática do Ifal, ou participando das competições, Leo, como é também chamado, sempre buscou manter contato com pessoas das quais tenha as mesmas afinidades e que sempre o ajudam a resolver os problemas.

“No início eu conheci alunos que já eram experientes nestas competições, o que acabou me motivando e eles serviram de espelhos para que eu pudesse crescer também. Alguns ex-alunos do Ifal, Davi Lima e Alan Anderson, que fizeram parte deste mesmo grupo do professor Argolo, em outra geração, me ajudaram bastante, por meio de orientação ao longo destes anos”, recordou.

Também foi esse elo entre as gerações, proporcionado por Argolo que fez Leonardo, ainda no Ensino Médio, manter o contato direto com docentes do Instituto de Matemática (IM) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Para Leonardo, tudo isso só se tornou possível porque ele buscou equilibrar os estudos com seu tempo livre.

“A parte do lazer e descanso é tão essencial quanto o esforço, pois se a parte emocional está abalada você não consegue produzir bem. Com relação a isso, levei bem tranquilamente e a questão de se dedicar a estas outras atividades não atrapalhou na vida social, consegui conciliar bem, basta administrar bem o tempo”, pontuou.

Dentre mestres e doutores, lá estava Leonardo

O professor Carlos Argolo falou sobre a importancia de provocar o jovem desde cedo para a ciência (Foto – Naísia Xavier/Ascom Fapeal)

A jornada de Leonardo ainda lhe reservava outras surpresas. Em julho de 2017, a Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal) publicou edital de Apoio à Participação em Reuniões em Científicas. O anúncio visava estimular o intercâmbio de pesquisadores das instituições de ensino superior e de pesquisa alagoanas com instituições de fora do Estado e do país, além de divulgar a produção e as atividades técnico-científicas e de inovação desenvolvidas nas instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) alagoanas.

O diferencial daquela edição, no entanto, foi o de apoiar a participação de estudantes dos ensinos Médio ou Técnico das redes estadual ou privada de ensino. Nesse contexto, Leonardo foi um 33 dos contemplados – o mais jovem deles – e conseguiu participar da 14ª Jornada de Foguetes no Rio de Janeiro. A competição foi em equipe e ele se juntou aos colegas do Ifal, Vinícius Tenório e Diogo Rafael, todos sob a orientação do professor Argolo.

“Foi uma viagem muito boa, a primeira para participar de um evento em outro Estado. Lá eu conheci o [astronauta brasileiro] Marcos Pontes e acompanhei palestras com pessoas que trabalham com foguetes no Brasil, foi muito interessante esse conhecimento, além de ter o contato com outras pessoas que fazem esse trabalho, para ver a ideia delas e aprimorar o nosso trabalho”, explicou o estudante.

O professor Carlos Argolo comemorou a iniciativa da Fapeal e destacou a importância desse edital contemplar, além de mestres e doutores, estudantes do ensino médio.

“É a primeira vez, até onde eu sei que uma Fundação de pesquisa nacional está financiando aluno de ensino médio. Éramos 33 cientistas, todos eles doutores e o Leonardo era o único não doutor. Não tinha bacharel, nem mestrado. Isso foi extremamente marcante para a Fapeal. Com esse edital, a Fapeal deu um pontapé numa coisa que não existe, por exemplo, na Fapesp  [Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo] que é uma gigante, mas não teve esse passo pra mandar um aluno a uma competição. Apesar de sermos campeões de tanta coisa negativa, a Fapeal deu um passo à frente e tem sido uma instituição que tem dado um fim à pesquisa. É um incentivo aos jovens, motiva bastante”, vibrou.

Argolo apontou ainda a importância dos investimentos em CT&I que, aliados com a educação, podem auxiliar no crescimento do país. “Ano após ano, vêm caindo os investimentos quando, na verdade, eles têm que ser acelerados e implementados para que o Brasil volte a crescer e volte, algum dia, a pensar em ser uma grande nação. Então, é importante que se dê uma boa educação e que se façam investimentos em educação como, por exemplo, 40% do PIB quando a nossa constituição dá somente 6%. É preciso dar acesso à educação, pois todo ser educado é um ser que tem capacidade de sobreviver, de gerar seu próprio conhecimento e seu próprio trabalho”, disse.

O interesse pela ciência

“Muito se diz que o aluno não tem interesse, mas começa que o professor desse aluno é desmotivado também. O primeiro de tudo é o professor ser motivado pra motivar esses jovens. Eu, no fundamental, não tive nenhum incentivo além da sala de aula, sempre fui de escola pública. E quando cheguei ao Ifal, comecei a fazer parte do Laboratório de Física, fazer atividades fora da sala de aula, que é algo simples e acho que todo mundo deveria participar. Mas, para isso, é preciso um professor incentivador. Dificilmente só o aluno vai, ele mesmo, não por causa de interesse, mas por causa de conhecimento”, apontou Leonardo.

Leonardo [centro] com o professor Carlos Argolo e o diretor-presidente da Fapeal, Fabio Guedes, durante visita à Fundação (Foto – Naísia Xavier/Ascom Fapeal)
O professor Carlos Argolo também comentou sobre o interesse do aluno pela ciência. Para ele, o estudante precisa ser provocado desde cedo. “A ciência é o caminho mais gratificante e capaz de tirar a pobreza do nosso país. A educação, desde a pequena idade, é capaz de mudar a identidade. E a gente tem que fazer o jovem estudar. Eu acho que a Fapeal tem um fundo de participação nisso de forma absurda. Fundações como a Fapeal e o trabalho de divulgação que fazem são muito importantes”, completou.

O sonho realizado

Aos 13 anos, Leonardo Marinho ingressou no Ifal e, no curso Edificações, tinha a intenção de se tornar Engenheiro Civil. Mas os planos mudaram quando ele conheceu a Matemática mais a fundo. Toda a jornada do jovem cientista não foi fácil, mas depois da resolução de alguns problemas e outros cálculos, com a ajuda de fórmulas e gráficos, ele colhe os frutos de seu esforço. Hoje, aos 17 anos, Leo teve aprovação em Matemática na Ufal e se diz grato por todas as oportunidades conquistadas.

“No 1º ano, no Ifal, eu não fui muito bem, mas não desisti. No ano seguinte, surgiram as primeiras medalhas e no Matemática sem Fronteiras, nossa equipe foi campeã nacional e fomos convidados para a Internacional, na Bulgária. Foi a primeira vez em que vi, de fato, um aluno ir ao exterior por causa de Matemática, o que me motivou bastante para continuar e decidir que o que eu queria mesmo era seguir na área científica, ser pesquisador. Afinal, um aluno de escola pública, conseguir isso a partir do estudo, se apaixonando e se motivando para continuar… É o que eu tento passar para as pessoas. Elas vêm com uma história de ‘ah, você é gênio’ (risos) quando, na verdade, é muito tempo de estudo. Se você tem a paixão e se esforça, vai conseguir. Hoje, estou matriculado na Ufal, um sonho realizado. Vou continuar estudando para atingir as metas e me tornar um pesquisador”, comemorou o estudante.

O Leo está lendo a sua reportagem na nossa revista. E você, quer uma também? Fala com a gente pelas redes sociais, ainda temos exemplares disponíveis! (Foto – Deriky Pereira/Ascom Fapeal)