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De impostos sobre escravos ao cotidiano dos engenhos, evento apoiado pela Fapeal discute escravidão e sociedade no século XVIII

IV Encontro do Nesem abordou o comércio negreiro e o perfil histórico de localidades como Santa Luzia do Norte

Tárcila Cabral

 

Fotos: Tárcila Cabral. Clique para ampliar

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) mantém uma agenda enérgica de apoio aos eventos científicos. Para tanto, disponibiliza anualmente editais que promovem o intercâmbio de pesquisadores e reuniões científicas no estado. Um destes frutos é o Encontro do Núcleo de Estudos Sociedade, Escravidão e Mestiçagens (Nesem), que este ano atinge a sua quarta edição.

Apoiado pela Fapeal através do edital de Auxílio à Organização de Eventos Científicos (AORC), o evento é realizado por intermédio Programa de Pós-graduação em história da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). O auxílio concedido possibilitou uma programação de três dias, entre 28 e 30/8, que englobou desde conferências e mesas de discussão ao lançamento de livros.

A Fapeal acompanhou de perto uma das mesas na última quinta (29), com a temática: Escravidão e sociedade no século XVIII. As discussões foram iniciadas com a doutoranda em história, Luanna Ventura, abordando a tributação sobre os escravos de Pernambuco a partir de dois personagens: Jerônimo Lobo e Manuel Bandeira. A acadêmica pontuou quais eram os novos direitos e valores que insidiam da tributação de escravos na época.

Os personagens são importantes neste contexto para a construção da narrativa, já que, eram os responsáveis pelos direitos e contratos no estado do Rio de Janeiro, no caso de Jerônimo Lobo, e da Paraíba e Pernambuco, Manuel Bandeira. Numa segunda fala, a professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Suely Almeida, dialogou sobre a família Sacoto e o comércio de cativos entre a Costa da Mina (na África) e Pernambuco no século XVIII.

Os dados apresentados demonstram que José de Freitas Sacoto, em 1550, já ascendia socialmente cobrando os direitos em navios e, a partir de 1753 historiadores encontram contratos de despachos de escravos advindos de um acordo entre Bahia e Pernambuco.

O primeiro estado despachava na ilha africana de São Tomé, e o segundo, em Príncipe, também próxima à Guiné, sendo este último contrato gerido por Sacoto. O momento relatado pela pesquisadora foi decisivo, pois enquanto Jerônimo se lançava no contexto como um grande comerciante, o líder da família Sacoto iniciou sua carreira como cacheiro.

A doutora em história endossa que, ao final de suas trajetórias, Jerônimo atinge a falência e desaparece da documentação perdendo seus bens, mas José de Freitas enriquece e deixa filhos e netos como negreiros da praça de Pernambuco.

Partindo para o cenário da vila de Penedo a mestra em história, Fabianne Nayra, discutiu a realidade da época e a nomenclatura parda. A estudiosa pontuou um perfil de cargos e ocupações que eram comuns ao contexto e elucidou de que forma o termo pardo se inseria naquela sociedade.

Encerrando a etapa de apresentações o coordenador do evento, Gian Carlo de Melo, seguiu direcionando o discurso sobre a conjuntura alagoana, mais precisamente de engenhos e freguesias.

A forma censitária realizada para obter os dados eram as confissões católicas: os párocos iam anualmente às casas e fazendas para assegurar que os fiéis cumprissem as obrigações de comunhão. Estes dados apontavam cerca de 4550 pessoas habitando a freguesia de Santa Luzia do Norte — temática do estudo, mas apenas 10% delas viviam em sua parte central.

As características do núcleo central eram simples, com poucas ruas e próximo à igreja. Neste período a porcentagem de escravos por pessoa atingia uma média de 1,8. O professor concluiu explicando que o contexto societário e negreiro apresentado sofre mudanças quando ocorre uma separação entre Santa Luzia do Norte e Maceió.

As programações do IV Encontro do Nesem finalizam suas atividades nesta sexta, 30/08, porém o grupo de pesquisa segue elaborando trabalhos acerca da história da escravidão.

O professor Gian Carlo de Melo, dada a produção de pesquisas relevantes na área, foi contemplado em 2016 no edital de Apoio à Pesquisas nos Programas de Pós-graduação de Humanidades, que gerou a publicação do livro História da escravidão e da sociedade em Alagoas: conceitos, instituições, dinâmicas sociais, econômicas e culturais.