O coordenador do PrevFumo da Uncisal explica o que os fumantes devem considerar diante da pandemia
Tárcila Cabral
Até ontem, havia mais de 296 mil casos confirmados de coronavírus no Brasil. Levando em conta as subnotificações e o fato de que o país é um dos que menos testa no mundo, pode haver um número até 16 vezes maior de pessoas infectadas em território nacional, de acordo com projeção desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP).
Esta condição e seus desdobramentos ainda estão começando a mostrar sua potencialidade, caminhando silenciosamente pelo país, mas como devemos proceder diante de um quadro de saúde já debilitado ou crônico? Para abordar este cenário esclarecendo em especial a condição do fumante no Brasil, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) convidou um especialista para dialogar sobre a temática.
O pró-reitor de ensino e graduação da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), George Souza, desenvolveu estudos sobre os efeitos da reabilitação cárdio-pulmonar nas doenças do aparelho cardiocirculatório. Além disso, dentro da Uncisal, coordena um projeto de extensão específico para a prevenção da dependência da nicotina.
O pesquisador inicia apontando que o tabagismo é uma condição grave no organismo humano, pois ocasiona em torno de 55 doenças chamadas de doenças tabaco relacionadas, demonstrando que o cigarro é um fator determinante no desenvolvimento de doenças crônicas e por isso, em tempos de pandemia, os cuidados devem ser intensificados.
O docente afirma que hoje em torno de 12 a 16% da população ainda fuma, o que é um número grande de pessoas tabagistas. Isto transforma a dependência numa luta que deve ser diariamente combatida: “O cigarro é a maior causa de morte evitável no mundo dispondo de um impacto social e na saúde muito grande, é um tema sempre atual”, frisa o professor. Somando estes fatores as circunstâncias da Covid-19, o grupo fumante deve considerar seriamente em não só redobrar os cuidados, como parar ou reduzir o consumo de nicotina.
George Souza afirma que o perfil epidemiológico do coronavírus no mundo já está traçado: atinge mais idosos, portadores de doenças crônicas, neste último caso especialmente os cardiopatas. Sabe-se que a hipertensão é uma das doenças tabaco relacionadas, e a primeira função que altera no tabagista é a pressão arterial. Os vasos ficam mais rígidos e perdem a capacidade de acomodação do sangue, então a pressão arterial aumenta.
“O cigarro é sem dúvida nenhuma um fator de risco para a mortalidade e para a gravidade do coronavírus”, pontua o doutor em medicina interna e terapêutica. Ele explica que isto é verificado principalmente pelas doenças respiratórias crônicas e doenças cardiovasculares crônicas, entre elas a hipertensão arterial que é um fator nocivo aos portadores da covid-19. Portanto a prevenção e os cuidados realizados para este público envolvem suspender o uso da nicotina.
Ele destaca que a dependência do cigarro pode ser analisada em dois contextos: a psicológica, pelo hábito de acender um cigarro várias vezes ao dia e isso criar uma rotina; e a dependência física da nicotina, que libera substâncias no cérebro que dão sensações de prazer, como serotonina e dopamina. No entanto, mesmo neste cenário difícil George Souza enfatiza que a melhor opção é cessar o consumo:
O principal cuidado ao enfrentar o coronavírus nesses casos é acabar com o tabagismo, além do impacto na saúde que é irreparável porque as doenças ocasionadas são, em sua maioria, crônicas, o cigarro também tem um impacto financeiro muito grande”, alerta o docente. O Pró-reitor aborda que a qualidade de vida do indivíduo cai drasticamente com o uso contínuo da nicotina por conta da saúde debilitada, mas que o lado financeiro também é prejudicado.
“Imagina uma pessoa fumando um maço de cigarros por dia gastando aí 6 ou 7 reais durante 30 anos, isso para quem fuma um maço, nós tivemos pacientes que fumavam 90 ou até 120 cigarros por dia”, complementa o estudioso. O especialista menciona que para a maioria das pessoas o vício consegue ser combatido sozinho numa tomada de decisão. O problema é que algumas delas não conseguem sair do vício nesta condição solo.
É neste sentido que o projeto de extensão PrevFumo atua, o programa existe desde 2005 na Uncisal e é coordenado pelo professor George Souza. O PrevFumo realiza um acompanhamento de aproximadamente dois meses dos pacientes com reuniões em grupo e se necessário, faz reposições de nicotina por meio de adesivos. Todo o tratamento é disponibilizado gratuitamente.
Prevenção ao tabagismo em tempos de Covid-19
Hoje, mesmo em tempos difíceis enfrentando um vírus desconhecido, o professor George Souza acredita que esta é uma oportunidade importante para educar as pessoas sobre o tabagismo.
Ele cita que a Covid-19 está mudando os hábitos de vida no mundo e que teremos uma nova configuração no contexto societário para se adequar a esta realidade. Isto acaba se tornando uma preocupação maior para os tabagistas, por que o grupo sofre grandes riscos diante da pandemia e vai demandar essa transformação social, diz o pesquisador.
“Nós vamos ter um redesenho dos modos de higiene e de saúde no mundo inteiro, então é uma oportunidade sim para que os fumantes parem nesse momento”, cita o doutor em medicina interna e terapêutica.
Ele reflete que não somente parar com a nicotina é significativo, manter hábitos saudáveis ajuda igualmente corpo e mente a alcançarem qualidade de vida e saúde. Uma alimentação rica em nutrientes irá fornecer anticorpos e imunização importantes para resistir nesse período tão necessário. Além disso, se exercitar regularmente não será benéfico somente para o corpo, segundo o pesquisador a atividade libera substâncias que fornecem sensações de prazer e são enviadas ao cérebro.
“O exercício físico além de ser saudável para o condicionamento cardiovascular e pulmonar também ajuda a diminuir a ansiedade e depressão”, cita o acadêmico. O único obstáculo a ser combatido é inovar e conseguir realizar os treinos em casa.