DestaqueNotícias

Estudo descreve espécie de parasita que infecta peixes do complexo Mundaú-Manguaba

Investigação sobre a qualidade das Carapebas vendidas em Maceió conta com recursos do edital Fapeal/Fapesp

Naísia Xavier

 

Eugerres brasilianus é o nome científico de uma espécie apreciada em todo o Nordeste, e valorizada por alagoanos e maceioenses de maneira particular, que pagam por ela acima da média, em comparação a outros pescados. Considerado iguaria sempre, tradicional para quem observa a Quaresma, comida afetiva ligada às memórias da infância para uns, “peixe de regime” para outros, o fato é que a Carapeba, nome popular, às vezes é o campeão de vendas no Mercado do Peixe de Maceió e em eventos como a Feira do Peixe Vivo, e às vezes, até falta para os consumidores, por causa de tanta procura.

Sendo um produto de interesse ecológico, alimentar, comercial e cultural, a Carapeba, que possui a característica de migrar do oceano até o ambiente lagunar para se reproduzir, também desperta o interesse de pesquisadores.

O grupo de pesquisa dos doutores em Ciências/Parasitologia Rodney Kozlowiski e Vanessa Doro Abdallah, vinculados ao Mestrado Profissional Análise de Sistemas Ambientais do Centro Universitário Cesmac, partiu da motivação de que os desgastes ambientais sofridos por todo o complexo estuarino lagunar Mundaú-Manguaba refletem diretamente na reprodução e na abundância de peixes, impactando negativamente na vida da comunidade que vive da pesca.

Contando com o apoio de edital conjunto da Fundações de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal) e de São Paulo (Fapesp), em parceria com cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), o trabalho do grupo descreveu uma espécie de microparasito que pode causar danos às brânquias e em outros órgãos dos peixes parasitados, denominada Henneguya lagunensis, fazendo menção ao complexo lagunar que é uma das maravilhas do estado de Alagoas e significativa fonte de subsistência. Os peixes utilizados no estudo foram comprados de pescadores nas imediações da Lagoa Mundaú, em Maceió.

“Não existe nenhum relato de transmissão para seres humanos das espécies já descritas deste parasito, porém, eles podem causar a diminuição da população dos peixes Carapebas”, explica o professor Rodney.

“Estudos deste tipo são de grande importância quando se pretende ter uma visão microscópica de fatores ambientais e ecológicos”, observa o pesquisador chamando atenção para a grande quantidade de matéria orgânica lançada diretamente nas lagunas, vinda de esgotos domésticos, industriais e até mesmo do ambiente rurais, sem nenhum tratamento químico.

‘Não é só um trabalho de estudo da biodiversidade”, acrescenta o doutor Rodney: “Existe uma grande preocupação com toda a dinâmica que envolva a relação entre parasitas e hospedeiros”, já que impactos negativos das ações humanas no ambiente podem comprometer o equilíbrio nessa relação.

Ele ainda adianta que graças ao fomento aprovado no edital Fapeal/Fapesp, outras espécies de parasitos poderão ser pesquisadas, de forma a fornecer dados que poderão contribuir com o poder público na tomada de decisões para a gestão ambiental desse ecossistema tão importante para Alagoas.

O resultado foi publicado no final do ano de 2020, no conceituado periódico científico Parasitology International, e está disponível no endereço https://doi.org/10.1016/j.parint.2020.102184, sob o título Morphological and molecular analysis of Henneguya lagunensis n. sp. (Cnidaria, Myxosporea) parasitizing the gills of Eugerres brasilianus from Brazil