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Fernão Velho comemora recebimento de Selo de Indicação Geográfica

Empresa tem apoio do Governo de Alagoas, por meio da Fapeal, em diversos projetos voltados à Ciência, Tecnologia e Inovação

Deriky Pereira

Chácara Âncora. Foto: Deriky Pereira

Na última sexta-feira (9), a empresa apícola Fernão Velho comemorou o recebimento do Selo de Indicação Geográfica (IG): Manguezais de Alagoas. Trata-se da conclusão de um sonho que começou lá atrás, em 2006, com projeto aprovado seis anos depois, mas que precisou de nove anos para estruturação e esperança para que não desaparecesse.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um Selo de Identificação Geográfica remete à localização de origem e às condições da fabricação de produtos, permitindo que consumidores saibam que estão adquirindo produtos diferenciados pela qualidade de sua procedência, além de valorizar a cultura local e fomentar atividades turísticas.

“Eu consultei o Inpi [Instituto Nacional da Propriedade Industrial] e a única própolis do mundo, atualmente, que está botando em prática o uso do Selo de uma Denominação de Origem é essa Própolis Vermelha dos Manguezais de Alagoas através da empresa Fernão Velho. Fiquei surpreso, achei que já existia em outras regiões do mundo, mas não. Com o uso desse selo de reconhecimento mundial vamos alavancar a empresa e a apicultura de Alagoas. Estamos muito felizes. Isso aqui não é da Fernão Velho. É da associação de Própolis que todos fazem parte.”, enfatizou, emocionado, o presidente da empresa, Mário Calheiros.”

O presidente da União dos Produtores de Própolis Vermelha de Alagoas (Unipropolis), Diego dos Anjos, classificou o momento como um marco. “Está sendo uma alegria que uma primeira empresa se propôs um desafio e conquistou o uso do selo e isso vai ficar marcado na história da nossa associação e para o estado de Alagoas. Isso representa um reconhecimento internacional. Acredito que daqui em diante nossos gestores sejam iluminados de alguma maneira para dar uma olhada com mais carinho a isso. Vamos divulgar essa IG agora, de Alagoas, Brasil, quiçá o mundo todo”, vibrou.

Fernão Velho e Fapeal: uma história de longa data

Também presente na solenidade, o diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), Fábio Guedes Gomes, parabenizou a todos da Fernão Velho pela conquista do Selo.

“É de uma imensa satisfação representando a Fapeal, no fomento à Ciência, testemunhar o resultado de uma longa jornada que une vontade, garra, ciência, tecnologia e inovação. Aqui está a prova viva de que um país se transforma com a colaboração do estado, de pessoas empreendedoras e com o conhecimento produzido desde a base até o ensino superior. Não tem país que avance sem isso”, destacou Guedes.

O professor, no entanto, lamentou a situação atual do país quanto aos cortes de recursos financeiros federais em diversas áreas, inclusive na ciência e na pesquisa, mas reforçou que o Governo de Alagoas, por meio da Fapeal, tem feito o possível para que a engrenagem da Ciência não deixe de girar.

“Aqui em Alagoas, o próprio Governo, no campo da Ciência, está se esforçando muito pra não deixar a peteca cair. E isso com apoio e muito grande da Universidade, do Sebrae, Federação das Indústrias e os próprios reitores têm nos dado as mãos pra gente continuar a fazer a coisa acontecer”, salientou.

Mário Calheiros, por sua vez, recordou que a ligação da Fernão Velho com a Fapeal é de longa data, com apoios em editais como o Tecnova e o PPG Empresa. E adiantou que está vindo aí um novo projeto que visa criar uma linha de produtos voltada para o câncer de boca.

“Nossa própolis está voltada pra indústria farmacêutica, que vai atingir as pessoas nas diversas áreas assim como agora, que estamos agora iniciando um projeto, com apoio da Fapeal, da Finep e do CNPq para o desenvolvimento de alguns compostos, produtos, para a prevenção e destruição de câncer de boca. No próximo ano, vamos trabalhar uma linha sem álcool, fruto do trabalho do Tecnova 2 em parceria com a Fapeal e, quem sabe, no final do ano que vem ou no começo de 2023, essa linha de produtos voltada para o câncer de boca. A evolução é grande, estamos fazendo nosso dever de casa com um time multidisciplinar”, salientou.

O professor Fábio Guedes comemorou destacando a importância da biotecnologia para as pessoas. “O Brasil não precisa estar investindo em corrida armamentista, corrida espacial, precisa investir naquilo que a gente pode dar colaboração. A biotecnologia, a bioeconomia é o que a gente precisa pra colaborar com a humanidade. Parabéns e que continuemos nessa parceria que é esse tipo de parceria que a gente precisa”, disse ele.

Própolis Vermelha e a Transformação Social

Reitor Josealdo Tonholo. Por Jeroan Herculano

Durante a solenidade, Mário Calheiros comentou sobre o apoio que recebeu dos diversos parceiros durante todo o processo. Ele recordou também que a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) foi uma das instituições que abraçou a causa.

“O nosso primeiro projeto foi o do Hidromel, em 1999. Portanto, 22 anos… Olha quanto tempo que a Universidade acreditou. Depois veio o vinagre de mel, enfim, toda uma linha gourmet. E nos últimos 15 anos com a descoberta cada vez maior dessa própolis vermelha dos manguezais de Alagoas nós focamos, estruturamos, e há 10 anos montamos essa unidade, inclusive com certificado sanitário internacional”, recordou.

Para o reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, a simplicidade de Mário foi responsável para tirar a Universidade do que ele classificou como um “castelo de marfim” e abrir espaço para outros colegas e, consequentemente, projetos que usem direta ou indiretamente a Própolis Vermelha em seus estudos, pois foi preciso que, lá atrás, alguém prestasse atenção no material – que não era apenas um produto, e sim, o pé direito da biotecnologia.

“Muito mais do que uma oportunidade da biodiversidade que a Própolis mostrou-se, ela trouxe uma oportunidade de desenvolvimento educacional e cientifico que até então a gente não tinha. E se hoje a gente tem dois cursos de biotecnologia na Universidade e a gente sedia aqui em Alagoas a maior rede de propriedade intelectual do país – uma das maiores do mundo – uma rede que tem 440 doutores em propriedade intelectual, 1.400 estudantes fazendo mestrado no país inteiro e a sede é aqui, na nossa Ufal, é porque a gente tem um lastro. E sabe de onde veio esse lastro? Da primeira indicação geográfica da biodiversidade das Américas, que é a Própolis Vermelha de Alagoas”, celebrou.

Tonholo ainda brincou que, independentemente da cor que a Própolis tivesse, o trabalho desempenhado pela equipe da empresa – que também chegou a mais de 200 estudantes treinados em cima do produto – é uma transformação social da qual não se pode abdicar, pelo contrário, a torcida é para que seja multiplicado cada vez mais.

Empreendedorismo e a transformação do país

Outro importante parceiro e bastante mencionado durante o evento foi o Sebrae. Para Vinicius Lages, diretor técnico do órgão, o Selo é fundamental para um estado como Alagoas. “É muito importante estar aqui e ver que esse estado pode se transformar se nós agregarmos mais ciência, mais tecnologia. Agradeço de poder estar aqui participando desse momento. O Sebrae acredita em gente que empreende e quer empreender e que quer transformar o país através de empreendedorismo”, disse.

Ele recordou que esteve envolvido no primeiro grande evento sobre Indicação Geográfica e que, além de ter organizado a primeira publicação sobre o tema no país, considera como orgulho ver mais de 60 Indicações no Brasil, fazendo com que outros territórios possam articular a produção, agregar valor e, consequentemente, chegar ao mercado. “Institucionalmente é muito bom ver isso se tornando realidade. Não foi fácil, mas eu sabia que vocês estavam decididos e que iam colocar isso de pé. Obrigado por terem levado isso adiante”, concluiu.