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Projeto que utiliza própolis vermelha de Alagoas no câncer bucal beneficia saúde pública e setor produtivo

Com o Brasil ocupando o 3º no ranking de casos de câncer bucal, o estudo pode auxiliar no tratamento das comorbidades relacionadas

Tárcila Cabral

 

Em Alagoas, as pesquisas vão além da teoria, e cumprem efetivamente aplicações sociais. Afinal, associar ciência à solução de demandas públicas sempre foi uma preocupação do Governo do Estado que, por intermédio da sua Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapeal), tem lançado editais que atendem  às práticas de estudos focados nos desafios locais.

Este foi o cenário apresentado pelo PPG Empresa, chamada inédita na Fapeal que direcionou bolsas de mestrado e doutorado para lacunas em pesquisa junto ao setor privado, realizando uma ponte entre academia e setor produtivo.

Dentro dos estudos aprovados no edital, um em especial se destacou justamente, por buscar solucionar um problema de saúde pública: o projeto de aplicação da Própolis Vermelha de Alagoas no tratamento de câncer bucal.

Camila Beder Panjwani – Cedida

Segundo a coordenadora do estudo, professora Camila Panjwani, odontóloga e doutora em estomatopatologia, a pesquisa consiste em testar a Própolis Vermelha de Alagoas como um coadjuvante no tratamento para o Carcinoma Epidermóide da Cavidade Bucal (CECB), pois suas propriedades antibióticas, anti-inflamatórias e antineoplásicas já foram comprovadas em estudos in vitro e em animais.

O estudo pode auxiliar no tratamento das comorbidades relacionadas à presença da doença, uma vez que esta é agravada pelas microbiota e pH desregulados da cavidade bucal, e também das comorbidades relacionadas ao tratamento antineoplásico, porquê o paciente apresenta mucosite (inflamação), candidíase (infecção oportunista fúngica) como efeitos colaterais ao tratamento contra o câncer. E através da Própolis Vermelha de Alagoas, esses efeitos podem ser minimizados e o paciente ganha uma qualidade de tratamento menos agressivo.

Atualmente o Brasil ocupa o 3º lugar no ranking dos países que mais registram casos de câncer de boca no mundo, o país apresenta uma média de 15 mil a cada ano segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). Portanto, o estudo se diferencia pela aplicabilidade prática de uma demanda de saúde pública, mas mantém o foco de realizar a investigação científica e minimizar as comorbidades que essa doença pode trazer, juntamente com o seu tratamento.

“Já foram comprovadas em estudos in vitro e em animais as propriedades antibióticas, antinflamatórias e antineoplásicas da própolis, e em especial da própolis vermelha, então acredita-se que este complexo rico em substâncias ativas pode servir para qualquer caso de câncer. No caso do nosso estudo, o foco se restringe ao carcinoma espinocelular de boca (CECB), causado por vários fatores, dentre eles o consumo de tabaco, álcool, alimentação pobre de nutrientes e falta de hábitos saudáveis”, frisou a coordenadora do projeto.

De acordo com a estudiosa, os procedimentos de pesquisa se baseiam no uso de extratos da própolis proveniente de um resíduo da 1ª extração da substância, o que confere sustentabilidade à empresa parceira e proporciona a entrega de um produto de excelente qualidade.

Já os benefícios representados por este tratamento são amplos, uma vez que a própolis apresenta propriedades antineoplásicas (agindo na relação entre as células cancerígenas e o sistema imunológico) e, por meio de suas propriedades antibióticas, controla a proliferação de bactérias e fungos, que podem agravar as mutações das células epiteliais iniciadas para o câncer.

Doutora Camila e Equipe da Pesquisa – Cedida

No entanto, todo este avanço acadêmico não é à toa. O estudo é fruto de um trabalho complexo de cooperação entre dois programas de pós-graduação e uma empresa, já que o formato do programa PPG Empresa da Fapeal promove esta ponte entre academia e empreendedorismo.

Foram reunidos neste desenvolvimento o Mestrado Profissional de Pesquisa em Saúde do Centro Universitário Cesmac, o Programa de Doutorado Renorbio da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a empresa Fernão Velho. Todos estes esforços de pesquisa e também os investimentos foram ressaltados pela pesquisadora como significativos, que enquadrou a Fapeal como inovadora no lançamento de um edital piloto junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Este edital, pioneiro no Brasil, favoreceu a comunicação entre entidades que podem se apoiar e se auxiliar na criação de produtos de qualidade, por meio da troca de expertise da universidade com o aparato técnico da empresa. O edital rendeu duas bolsas de mestrado, duas bolsas de iniciação tecnológica e uma bolsa de doutorado, as quais foram de grande importância para os programas de pós-graduação, quando da formação de recursos humanos para a pesquisa. Portanto, vejo como frutífera essa parceria PPG Empresa, que deve ser valorizada em outros editais”, concluiu a pesquisadora.

Ainda colhendo os frutos deste trabalho, agora a equipe de pesquisadores dos PPGs Cesmac e Ufal, juntamente com a empresa Fernão Velho, conquistaram mais um fomento por meio da aprovação de um projeto no Edital Tecnova 2,lançado numa parceria entre Fapeal e Finep, a Financiadora de Estudos e Projetos do Ministério da Ciência, tecnologia e Inovações.

Assim, a equipe poderá dar continuidade aos estudos da própolis vermelha de Alagoas com foco no tratamento desta doença crescente e desafiadora que é o carcinoma espinocelular de boca.

A professora Camila Panjwani, espera um impacto relevante do projeto no estado, já que valoriza um produto natural e local de maneira sustentável para a empresa parceira, fortalecendo a economia alagoana através de um material rico e exclusivo, que pode ajudar a saúde pública a nível global.