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Fapeal em Revista: Fazendo ciência em meio às incertezas do futuro

Jovens pesquisadores da Uneal falam das experiências científicas antes da pandemia, da nova realidade imposta pelo atual momento e defendem a importância do fomento à ciência e à pesquisa

Deriky Pereira

Estudantes durante pesquisas (Foto: Acervo)

Quando a Giselle Souza (21), o Leonardo Santos (22), a Noemia Cardozo (23) e a Riquelle Santos (24) ingressaram na Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), em Arapiraca, para iniciarem suas graduações em Ciências Biológicas eles nem imaginavam que uma pandemia entraria no meio do caminho. Aqui, mostraremos como eram os trabalhos antes de o mundo parar por conta do novo coronavírus, a ligação deles com a Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal), e os desafios da época atual para o futuro da ciência sob o olhar destes pesquisadores.

Riquelle é bolsista Fapeal (Foto: Acervo)

Tudo começou em 2019 com o estudo sobre o Efeito de Microrganismos Eficazes (ME) na Biorremediação de Águas Contaminadas por Dejetos Animais na Barragem da Vila Bananeira em Arapiraca. Essa categoria, como nos explicou Leonardo, “constitui-se por um grupo formado por leveduras, bactérias e fungos filamentosos, por exemplo, com grande valor biotecnológico e que pode ser aplicado, principalmente no meio ambiente e na agricultura, para promover melhorias e (re)estabelecer o equilíbrio ecológico.”

Já segundo Riquelle, a eficácia destes Microrganismos beneficia a toda a população, especialmente os agricultores: “Eles podem ser produzidos em casa, sem uso de produtos químicos, além de terem diversas possibilidades de uso, como adubo, produto de limpeza e remediador (forma utilizada no projeto) possibilitando a reutilização de águas contaminadas, contribuindo assim, de forma ecológica”, complementou.

O trabalho, por sua vez, ganhou ainda mais destaque ao ter um artigo, com os resultados preliminares sobre o tema, publicado no volume 11 do periódico Research, Society and Development que você pode conferir clicando aqui.

Mais ciência, mais resultados

Giselle é bolsista Fapeal (Foto: Acervo)

Já em 2020, os estudantes e a Fapeal estavam unidos em outra pesquisa, cujo objetivo foi o de isolar e caracterizar a atividade antimicrobiana e de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) dos Actinomicetos presentes no Bokashi, um adubo orgânico fermentado, e a partir disso, avaliar a capacidade deste grupo de microrganismos isolado e o potencial antimicrobiano sobre diferentes fitopatógenos, bem como a sua capacidade de fixar biologicamente o nitrogênio.

“Com os resultados, é possível contribuir para a realização de novas pesquisas utilizando esses microrganismos isolados para a produção de diferentes inóculos a serem testados e aplicados no meio ambiente, bem como outras formas de aplicações desse tipo de adubo em diferentes culturas vegetais, beneficiando não só agricultores familiares, pelo baixo gasto com insumos, e a população, por consumir alimentos sem a presença de agroquímicos, como também o meio ambiente, por promover uma agricultura mais sustentável e menos nociva”, explicou Giselle.

Além dos agricultores familiares, a pesquisa enriquece também o Banco de Germoplasma da Uneal que, segundo Leonardo, é muito ligada à agricultura e aos produtores locais. “Resumidamente, essa pesquisa pode contribuir para a produção de alternativas mais sustentáveis a serem empregadas no manejo agrícola e do meio ambiente em nosso município e em nosso estado, visando uma agricultura mais sustentável e consciente”, disse ele.

Assim como o primeiro estudo citado, este também teve resultados preliminares publicados – desta vez, no volume 6 do periódico Diversitas Journal, em artigo que você pode conferir por meio deste link. Além disso, a pesquisa recebeu menção honrosa no 2º Congresso Internacional de Produtos Naturais (Copnat), promovido pelo Centro Universitário Cesmac em 2021.

Professora Esmeralda Lopes e alunos (Foto: Acervo)

Da teoria à prática

Todos os trabalhos citados e desenvolvidos pelos estudantes têm como orientadora a docente Esmeralda Lopes, que nos contou sua visão em trabalhar com os jovens cientistas. Ao recepcioná-los, no início do curso com a disciplina Introdução às Ciências Biológicas, ela lhes repassa um formulário individual para saber de onde eles vêm, se são do ambiente urbano ou rural e se têm a percepção dos problemas locais, principalmente na área de ensino.

“A partir daí, começo a ensinar como fazer pesquisa. E é maravilhoso acompanhar a evolução destes alunos no método científico e o quanto ser bolsista abre caminhos para ele, principalmente na formação continuada. A grande maioria segue a vida acadêmica, há uma transformação em suas vidas, eles saem dos rincões do interior alagoano, particularmente do Agreste, e partem para outras regiões brasileiras”, celebrou a professora.

Desafios de se fazer ciência no contexto atual

Os sucessivos cortes nas verbas destinadas a vários setores, dentre eles na Educação e na Ciência, causam pânico quanto ao futuro dos trabalhos em andamento ou de novos projetos. Para Noemia, essa incerteza torna o processo cada vez mais limitante aos alunos.

“Foi por meio da iniciação científica que pude desenvolver e entender a grande importância da pesquisa para o meio acadêmico e pessoal, que tem o poder de transformar o aluno. E graças a Fapeal conseguimos realizar projetos com o apoio necessário, mas é muito triste ver amigos que perderam oportunidades devido ao corte de bolsas de iniciação científica, além da própria comunidade também não ser beneficiada, pois os projetos visam melhorias que possam ser implementadas no dia a dia para toda a sociedade”, lamentou.

Noemia é bolsista Fapeal (Foto: Acervo)

Giselle, por sua vez, diz que a situação trouxe diversas dificuldades e limitações aos pesquisadores: “A colaboração científica e o comprometimento com o desenvolvimento de cada projeto tornaram-se fundamentais para tentar contornar essa situação. Assim, apesar dos diversos impasses que a covid-19 ainda proporciona, esse processo complexo e desafiador que envolve horas de dedicação, erros e acertos, são cuidadosamente planejados, reavaliados e adaptados para que as pesquisas não sejam prejudicadas”, apontou.

A fala das estudantes foi reforçada pela professora Esmeralda: “Para o ensino, para a pesquisa e para a extensão, não cabe o improviso, é necessário expandir os recursos sob pena de enorme retrocesso em nosso Estado, visto que, são as universidades que inserem anualmente profissionais em todos os setores, beneficiando empresas e negócios, e assim contribuindo para formação de riquezas em nossa região.”

Ela defende que, além da bolsa, insumos e mais tecnologia também possam ser destinados às instituições para que os estudantes consigam desenvolver ainda melhor as pesquisas e, consequentemente, elevar o conceito das Universidades: “O governo deve criar políticas públicas que priorizem mais a pesquisa científica, além do grande investimento que ele tem feito na tecnologia e inovação. Sem esses pilares não há desenvolvimento econômico, social e humano. Para nós, alagoanos, investir em ciência não é luxo, é necessidade”, refletiu a docente.

“Sem o fomento à ciência o país não avança”

Leonardo é bolsista Fapeal (Foto: Acervo)

A frase acima foi dita pelo Leonardo, quando questionado sobre a importância do incentivo dado pelo Governo de Alagoas, por meio da Fapeal, para o financiamento das pesquisas dele e das colegas. 

“O fomento à ciência é algo extremamente necessário pois, sem ela, o país não avança. Vemos isto todos os dias, basta olharmos ao longo da história que veremos o quanto o investimento em pesquisas salva vidas e proporciona melhorias para toda a população e para o meio ambiente”, disse ele.

O estudante recordou que esse apoio da Fundação permite que eles possam crescer enquanto pesquisadores e incentiva-os a continuar nesta caminhada: 

“O apoio da Fapeal em nossas pesquisas foi, e está sendo, crucial em nossa formação, pois ela vem nos acompanhando por quase toda nossa graduação, nos permitindo crescer enquanto pesquisadores e nos motivando a seguir na pesquisa futuramente em um mestrado. Além disso, como alguns de nós não residimos no município em que ocorrem as pesquisas, esse apoio tem sido fundamental também para que consigamos nos deslocar de nossas cidades para o laboratório.”

Leonardo também agradeceu o investimento que o Governo de Alagoas destina aos jovens cientistas, ao longo dos anos, mesmo com o atual momento vivido pelo país: “Admiro muito a Fundação pelo trabalho que tem realizado ao longo dos anos em nosso estado, no fomento de diversas pesquisas, incentivando pesquisadores e jovens, como a gente, a persistirem na ciência mesmo com o atual cenário desmotivador, com cortes de verbas e de bolsas, além da crescente onda negacionista que temos enfrentado”, concluiu o estudante.