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Com apoio do Governo de Alagoas, cientista alia pesquisa ecológica e empreendedorismo sustentável

Jessé Marques explora as dificuldades e potenciais do litoral e seu entorno, em iniciativas financiadas pela Fapeal e CNPq

 Naísia Xavier

O professor Jessé Marques é um exemplo de como integrar academia e negócios. Doutor em Agronomia, com PhD na Inglaterra, coordenador do Mestrado Profissional em Análise Ambiental do Cesmac e empreendedor, fazendo o interesse ecológico de suas pesquisas convergirem em uma startup inovadora.

Como isso é possível? Como na Ecologia, a que se dedica, a trajetória é um ciclo integrado. Começando com seu interesse na conservação dos mares, conseguiu a recente aprovação de um projeto em edital do CNPq, intitulado “Oceanos de plásticos: monitoramento da cadeia produtiva de plástico integrando estratégias de descarte e reciclagem para enfrentamento da poluição”, que foi avaliado com a nota 9,16 e receberá do CNPq R$ 900 mil, a serem executados em 48 meses.

O estudo vai envolver 60 pesquisadores em 11 instituições: Além do Cesmac, a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a Universidade de Lisboa, o Centro Nacional Marinho da Southern Cross University, na Austrália; as Universidades Federais de Pernambuco, Bahia e Ceará; a Universidade Estadual Paulista (Unip), a Universidade Feevale do Rio Grande do Sul, a ONG alagoana Instituto Biota de Conservação e o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemadem/MCTI).

Aliando-se à coordenação do projeto, o pesquisador também foi aprovado pelo CNPq como bolsista de produtividade, na categoria “Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora (DT)”, com o projeto “Lixo marinho: agregado de polímeros reciclados para a produção sustentável de artefatos de concreto”.

“Esses resultados somente demonstram a qualidade dos pesquisadores de Alagoas disputando espaços nas agências de fomento federais, mesmo com todas as restrições orçamentárias e financeiras que enfrentam”, comenta o professor Fábio Guedes Gomes, diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal).

Por fim, o resultado desses estudos vira uma prática social, influenciada pelo conceito de ESG, “governança ambiental, social e corporativa”: através do Programa Centelha, o professor Jessé Marques recebe apoio da Fapeal para sua startup, a e-concreto.

E é aqui que o ciclo se completa: Seguindo “a vida do plástico”, os projetos se valem da cooperação de pescadores para coletar resíduos plásticos que “escapam” da coleta seletiva e vão parar em meios aquáticos, áreas alagadas, mangues, interseções entre lagoas e oceano e, principalmente, nas praias urbanas, que são os ambientes mais afetados.

“Os pescadores hoje estão dando muita importância o recolhimento do plástico, porque estão preocupados com o sumiço dos peixes. Também recolhem muito isopor, que é usado nas embarcações; a e-concreto tem até interesse maior nesse item”, explica o pesquisador.

Na praia, eles coletam e fazem a triagem do mesoplástico, que é um plástico visível, e o microplástico, que também se enxerga, mas o nanoplásticos são invisíveis e a sua triagem será feita nos laboratórios.

“E com os cálculos, conseguimos estimar quais são os padrões de descarte desse lixo e o que está falhando nisso. Isso é feito com hipóteses e construção de cenário, por exemplo, se houvesse coleta seletiva de “xis” por cento, quanto por cento de lixo iria para o oceano?”, questiona o pesquisador.

Depois que a parte científica é feita, “toda essa coleta já tem uma destinação específica”, esclarece Jessé Marques: “Uma empresa que vai coletar todo esse material, trabalhar a fibra do plástico e transformar junto com a população do entorno: uma associação que vai começar a produzir artefatos de concreto não-estrutural”, e é essa justamente a proposta da e-concreto, explica o professor.

“Estamos esperando o plástico ser coletado e ter sua fibra trabalhada industrialmente, para então ser transformado em cobogós inspirados no filé do Pontal, com corres personalizadas e sustentáveis estão sendo desenvolvidas”. Assim, o objeto de análise científica vai ser tornar um produto novo para o trabalho de arquitetos, designers e decoradores, um produto sustentável, que encoraja uma decoração voltado ao vento e luz do sol abundantes no Nordeste, agregada à estética da cultura de Alagoas.

“Isso não é matéria-prima retirada na natureza e sim lixo retirado de grandes centros urbanos. O lixo que iria para o aterro sanitário é transformado num produto de embelezamento para ambientes”, arremata Jessé Marques. Os produtos já se encontram com depósito de patente.

Ciência na Prática – Detalhando seus estudos científicos, o empreendedor também alerta “Fatores ambientais como sol, água, umidade, sal vão degradando o plástico e o dissolvem em pequenas partículas invisíveis”. Elas se misturam com o alimento dos peixes e vão parar no último da cadeia, que são os humanos, “ou seja, quem gosta de consumir peixes frescos, frutos do mar, sushis, especialmente salmão, já tem risco de consumo contaminado por plásticos”, observa o cientista.

“Também serão analisados o sangue e tecidos de animais e líquido estomacal de animais vivos ou mortos, como tartarugas, peixes e ouriços, para verificar a presença de nanoplásticos neles”, completa.

“Dentro do estudo maior, também há um outro, no qual vai se tentar identificar as plumas (manchas) de plásticos nos oceanos; saber se é possível fazer essa identificação via satélite, já que o plástico reflete a luz de maneira diferente de outros corpos no mesmo ambiente, por exemplo, algas ou corais, para estudar a dinâmica de movimentação delas, a velocidade com que elas se dissipam e extensão, de donde podem estar vindo e como se movimentam. Esse é um tipo de estudo novo que ninguém nunca fez”, comenta Jessé Marques.