Projeto desenvolvido por alunos da Escola Estadual Marcos Antônio Cavalcanti já conta com aprovações em eventos acadêmicos
Tárcila Cabral
Computação quântica é assunto de ensino médio? O Governo de Alagoas demonstra que sim. Por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), o Programa de Iniciação Científica Júnior (Pibic Jr) tem beneficiado alunos e professores da rede pública estadual.
Apesar de recente, a iniciativa já revelou um projeto promissor que investiga uma tecnologia emergente, que pode revolucionar o processamento de informações. A ideia foi intitulada de “Introdução à computação quântica no ensino médio: para a alfabetização científica e tecnológica”.
O grupo, orientado pelo professor Anderson Buarque, doutor em Física da Matéria Condensada, é formado por alunos da Escola Estadual Marcos Antônio Cavalcanti Silva, localizada no bairro do Benedito Bentes, em Maceió. A equipe deu início aos estudos em julho e possui dez bolsistas que contam com recursos da Fapeal.
Estudantes de Iniciação Científica Júnior visitam servidores de rede da Fapeal. Fotos: João Monteiro
“Eu pensei nesse projeto para levar justamente um pouco de ciência, tecnologia e metodologia científica para eles. Então, o tema de computação quântica, eu inseri primeiro para chamar a atenção deles. Mas nós vamos trabalhar além dos aspectos quânticos, conceitos de programação e metodologia científica, vamos construindo o passo a passo. E lá no final a gente vai abordar temas da mecânica quântica com aplicações na computação”, ressaltou o orientador.
O professor cita que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) demanda como pressuposto pedagógico o entendimento de que a sociedade contemporânea está fortemente organizada com base no desenvolvimento científico. Porém, Anderson Buarque esclarece que a maioria dos estudantes do 1º, 2º e 3º ano não têm acesso a esses tópicos avançados em seu currículo escolar.
Ele complementa abordando que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), define as competências gerais a serem desenvolvidas pelos alunos em sua formação escolar, e a introdução à computação quântica pode contribuir para o desenvolvimento de algumas delas, como a competência de “pensamento científico, crítico e criativo”, aplicando conhecimentos das várias áreas para a compreensão de fenômenos naturais.
“Acho que isso é importante, principalmente para dar outras ideias ao pessoal do novo ensino médio e para nós, que estamos aprendendo sobre tecnologia em geral, porque tudo é um aprendizado, uma coisa vai levando à outra. E a gente está estudando computação quântica, mas não vai ser necessariamente só isso, eu, por exemplo, posso falar de criptografia, inteligência artificial e outras coisas que são novidades no ramo da ciência”, citou o aluno do projeto Eduardo Henrique
Existe, inclusive, uma grande curiosidade acerca dos computadores quânticos, porque eles podem ser capazes de resolver problemas complexos em velocidades que a tecnologia atual não permite. O professor entende que isso desperta a atenção e o interesse não só da comunidade científica, mas também do público em geral.
“Os problemas complexos, atualmente, têm de ser simulados em máquinas clássicas, então isso gasta muito armazenamento, demanda muita memória, mas na máquina quântica, não. As propriedades quânticas simulam um sistema e os átomos atuam como um computador quântico de fato. Então esses tipos de problemas complexos serão muito facilmente resolvidos em áreas, por exemplo, da Química, da Física, da Engenharia, até em situações climáticas”, comentou o professor do grupo.
Aprovações do trabalho e apoio da Fapeal
Mesmo com o início das atividades há menos de dois meses, o grupo tem obtido êxito em suas análises, pois já aprovou o seu primeiro trabalho no Encontro de Físicos do Norte e Nordeste. Para este evento, o orientador comemora o sucesso da pesquisa e cita que irá levar ao menos um dos alunos para apresentar a investigação, em novembro deste ano, em Salvador.
Anderson Buarque também frisa que, como possui um time grande de 10 estudantes, ele costuma dividi-los em trios ou equipes de quatro integrantes para que esses grupos produzam temáticas distintas. Esse foi o caso do trabalho a ser apresentado no Encontro, que foi construído pelos bolsistas Eduardo Henrique, Sandriely Barbosa e Emily Clara.
Quando questionados se estão gostando da experiência de estudar conceitos avançados de computação e ainda dispor de uma bolsa para auxiliá-los no processo, os alunos demonstraram muita empolgação e interesse na pesquisa.
“Eu tenho como objetivo me aprofundar mais sobre a ciência quântica, sabe? Eu percebo que muitas empresas hoje visam isso, e este é um assunto muito amplo. É uma oportunidade ótima ter essa bolsa para estudar”, disse Lucas Daniel.
“A bolsa veio no horário perfeito porque é o início para você se preparar para o Enem, ou para um vestibular, e ter essa ajuda é importante. Não digo só pelo auxílio financeiro, eu falo diretamente do estudo porque a gente se reúne uma vez na semana para discutir tópicos que normalmente não chegam até nós e seria tão bom se toda a escola tivesse esse acesso”, abordou Eduardo Henrique.
Como docente, Anderson Buarque disse que ter acesso ao edital Pibic Jr. da Fapeal foi muito relevante, especialmente para ele, que se encontrava fora da área acadêmica, mas sempre teve o sonho de orientar. Assim, ele construiu um projeto pensando em fornecer conhecimentos, habilidades e autonomia para os estudantes viverem esta experiência, ao mesmo tempo em que visava auxiliar a melhorar os índices da educação no estado de Alagoas.
“Agora, nós estamos nos preparando para novos eventos, eu estou em contato com a equipe da Fapeal e temos tido algumas ideias. Soubemos que teremos dois grandes momentos com todos os outros projetos, então vai ser bom para os meninos conhecerem mais grupos de iniciação científica. É muito bom construir esses conceitos desde cedo, ter essa formação para a vida e esse edital foi uma mão na roda”, complementa o físico.
O acadêmico finalizou a sua fala dizendo estar empolgado com a participação dos estudantes neste ambiente científico, e que, portanto, também planeja levar o grupo para um encontro na universidade. O seu desejo é mostrar que ser um cientista não é um sonho distante, e que pode ser realidade para muitos desses jovens.