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OPINIÃO: Ciência com vontade política: o que explica o sucesso de Alagoas?, por Fábio Guedes Gomes

Os avanços na última década em ciência, tecnologia e inovação no estado de Alagoas são notórios. Basta observar os números, a integração das ICTs (Instituições de Ciência e Tecnologia), o protagonismo de Alagoas em conselhos nacionais, suas representações institucionais e influência nos debates nacionais sobre o tema.

Escrevi nesse mesmo espaço, no dia 26 de março, mostrando evidências desse processo. Geralmente, as estatísticas falam mais alto que imagens.

Esses aspectos não poderiam ser considerados anteriormente, antes de 2015, dada a visão provinciana que o estado historicamente mantinha sobre essas áreas. Aqui e acolá existiam algumas iniciativas, mas sem grande impacto ou repercussão no cenário nacional.

Mas o que mudou nesse período? Como um estado pequeno em dimensão territorial, com um PIB bem inferior ao de outras unidades da Federação e uma estrutura produtiva ainda concentrada, conseguiu tornar-se referência nacional e ocupar espaços estratégicos de poder em ciência, tecnologia e inovação (CT&I)? A resposta está na decisão política.

Até 2014, os avanços em CT&I em Alagoas se deviam a alguns poucos abnegados, que, com o apoio institucional de algumas, mas importantes, entidades locais, conseguiam inserir o tema minimamente na agenda governamental — de forma modesta, mas ainda assim relevante para o estado das coisas.

A partir de 2015, no entanto, a área passou a ser tratada como prioridade, e as agências estaduais de fomento conseguiram lugar de destaque na política pública. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL) e a Secretaria de Estado de CT&I, foram inseridas nas prioridades do governo. Tanto isso é verdade que não há registro de programas estruturados ou com protagonismo na área de CT&I antes desse período.

A relação entre o governo e o sistema de pós-graduação das universidades alagoanas era frágil. Lembro-me de uma conversa com o reitor de uma universidade estadual, que comentava ter se reunido apenas duas vezes com o governador ao longo de todo o seu mandato. Para efeito de comparação, quando Renan Filho anunciou publicamente que deixaria o governo para disputar uma vaga no Senado, o fez em uma solenidade no Salão de Despachos do Palácio República dos Palmares, na presença das quatro universidades públicas do estado, que o homenagearam com moções aprovadas por seus respectivos Conselhos Superiores. Estávamos, naquele momento, praticamente ao final da pandemia de Covid-19.

Ao observarmos essa última década, vemos que várias estratégias e programas foram estruturados e permanecem em vigor até hoje, de forma sistemática, com orçamento e continuidade. Nada disso existia até 2014. No governo Paulo Dantas, o nível de investimentos na área não tem, de longe, comparação histórica. Isso faz toda a diferença.

O Centro de Tecnologia e Inovação do Jaragua é apenas um elemento da estratégia estadual. Ele torna-se a vitrine, o termômetro, do sucesso das ações de subvenção econômica que estimulam a criação e expansão do mercado de startups em Alagoas. Programas como Centelha da Inovação, Tecnova, Oxetech, Lagoon, Circuito Alagoano de Inovação etc. estruturam o desenvolvimento econômico do setor de tecnologia e informação.

Por fim, é importante destacar: a política de CT&I em um estado como Alagoas não avança apenas pelos méritos ou qualidades de um gestor em particular. Isso é devaneio ou exercício de vaidade. Para que ela tenha êxito, é necessário um consenso político sobre sua importância, a união do ecossistema local, a participação ativa das instituições de ensino superior, a valorização da pós-graduação, o interesse em formar jovens com alto nível de qualificação e, sobretudo, a aposta decidida na popularização da cultura científica e da inovação já na educação básica.

Alagoas voa nesse momento, rumo à um grau de maturidade que poucos estados, no Nordeste, já alcançaram.