DestaqueNotíciasSem categoria

Expedição científica desbrava o desconhecido baixo São Francisco

Através do apoio da Fapeal 35 pesquisadores iniciaram o primeiro estudo na região com tamanha complexidade e aprofundamento de dados

Foto: Divulgação

Desafiando os mais de 30 anos do anonimato científico do baixo rio São Francisco. o pesquisador Emerson Soares encorajou mais de 35 cientistas para desbravar a região. O doutor em biotecnologia vem a campo realizar agora a segunda interface do seu projeto, produzindo um acervo de informações hídricas. O estudo levará os mais modernos equipamentos e aparelhagens para um laboratório flutuante de 23 metros.

O professor do Centro de Ciências Agrárias (Ceca) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) iniciou sua jornada na última segunda, 15/10, e estima cinco dias para elaborar as análises ecológicas do rio. Esta expedição representa a segunda parte das pesquisas apoiadas pelo Governo do Estado por intermédio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Alagoas (Fapeal).

Há mais de 30 anos a região não recebe uma grande expedição para estudá-la, realizar um mensuramento da profundidade das massas de água ou sondar o relevo. A importância deste estudo ocorre porque esta é a primeira pesquisa feita no Baixo São Francisco com tamanha complexidade e aprofundamento de dados.

O intuito é levantar maiores informações sobre a análise da água, as espécies de peixes e camarão, dados de assoreamento, desmatamento na vegetação ribeirinha com a mata ciliar nativa, e a parte socioeconômica das comunidades que vivem no entorno do rio. O levantamento de dados irá subsidiar o grupo em referências para melhorar a gestão do rio frente aos problemas advindos da ação humana que ele vem passando.

Quanto aos poluentes, serão identificadas cargas de efluentes ou poluição de esgotos, agrotóxicos e pesticidas, produzindo também um catálogo de extensão rural abrangendo a parte terrestre dos pescadores.

O estudo possui uma grande relevância social, uma vez que construirá um perfil dos ribeirinhos, agricultores, trabalhadores, pescadores e também da qualidade de água. A partir dele, será confeccionado um grande panorama da situação do rio, e de como interferir e atuar em ações de melhoria e gestão do uso de recursos hídricos.

Anteriormente, o fomento foi concedido através do edital Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS), com recursos para explorar os efeitos dos poluentes e agrotóxicos na comunidade aquática e os reflexos disto no organismo humano. Na segunda, etapa a Fundação ampliou esta parceria “A Fapeal foi fundamental no apoio à articulação com o Comitê de Bacias Hidrográficas e outras instituições, e também no apoio financeiro da expedição, fornecendo 20 mil reais para sua execução”, citou o professor líder.

Pesquisa e conhecimento local

Foto: Divulgação

Os responsáveis pela expedição são 35 pesquisadores entre cientistas, alunos de graduação, mestrandos e doutorandos, sendo a grande maioria da Ufal. Somam-se a equipe três estudiosos do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), um da Instituição Espanhola de Sonografia, e mais três representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Aracaju.

No que se refere à estrutura, o grupo dispôs de quatro barcos, sendo um laboratório, um barco robô e dois de apoio: “Nós iremos fazer a coleta em campo e analisar tudo no barco laboratório, um barco de 23 metros com vários equipamentos”, cita o pesquisador Emerson Soares. O professor explica que o barco robô será similarmente útil, comportando uma série de equipamentos para fazer análises. Então muitas verificações serão feitas no local, e processadas durante os turnos em que os profissionais estejam embarcados na expedição. Porém, uma parte das análises como metais pesados, partes de água, enzimas de estresse, amostras com pesticidas ou agrotóxicos, serão feitas em laboratório.

Social

Com base neste levantamento se estima a produção de mais monitoramentos anuais, para obter-se um controle do rio e de medidas que possam mitigar os problemas de poluição. O São Francisco, assim como as grandes áreas do estado necessitam de monitoramento, pois dele sobrevivem populações que retiram muitos organismos da pesca formando culturas de cultivo da estação do massunim, sururu, peixe, tornando, portanto de suma importância um programa de monitoramento dos principais sistemas aquáticos de Alagoas.

Os impactos positivos também proporcionarão uma boa qualidade do produto comercializado, gerando conhecimento acerca de quais fontes de alimento podem estar contaminados em contato com pesticidas, agrotóxicos, esgotos domésticos ou outros tipos de poluição.

Sustentabilidade e saúde pública

O baixo São Francisco simboliza a área mais atingida do rio, porque recebe todo o aporte que vem descendo desde Minas gerais até a foz. É neste ponto onde existe uma grande quantidade de hidrelétricas que retém essas águas e isso impacta em todas as espécies da regiãor.

Possuindo um sistema de monitoramento nas principais áreas, por exemplo, no sistema Mundaú-Manguaba, São Francisco e Lagoa Azeda, isto repercute também na diminuição dos problemas na saúde pública. Investindo-se numa boa qualidade de produto e cuidando do ambiente, serão disponibilizados alimentos com qualidade nutricional superior, livre de poluentes e metais pesados, e consequentemente isso vai chegar até o consumidor.

Auxílios da Fapeal acabam sendo fundamentais, pois atualmente qualquer pesquisa de grande envergadura em diversas áreas multidisciplinares necessita de investimentos para a continuidade de ações de controle e fiscalização. Não basta meramente monitorar por um ano e em seguida deixar o estudo em aberto: “A gente precisa ter um acervo histórico de dados para subsidiar e ter uma projeção, um padrão através da modelagem para dizer como está o sistema, e ele precisa ter continuidade”, frisa o acadêmico.