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Pesquisadores e gestores públicos discutem o Canal do Sertão

Conhecimento gerado pelas pesquisas será utilizado para a convivência com a seca

"Precisamos escolher temas prioritários e estudá-los in loco, para gerar informações úteis à governança” -- Fábio Guedes, presidente da Fapeal
Reunião da Sala de Videoconferência da Fapeal. (Foto: Naísia Xavier)

Alagoas é o estado do país com a maior densidade populacional habitando o semiárido, 28,8% de seus habitantes vivem neste tipo de clima, caracterizado por poucas chuvas e pela Caatinga como vegetação predominante, totalizando quase um milhão de pessoas. Trinta e oito municípios alagoanos se encontram em zonas semiáridas, perfazendo 45,3% da área total do estado.

Soluções que ensinem essa população a conviver com as características mais marcantes dessa região são perseguidas o tempo todo. O Canal do Sertão foi projetado com o intuito de disponibilizar água para um milhão de habitantes em áreas semiáridas e viabilizar as atividades agrícolas e agropecuárias. Dos 250 Km previstos, 65 já estão concluídos. No entanto, continuam em aberto questões de infraestrutura e governança necessárias para prover acesso de fato às populações que se encontram em posição de serem beneficiadas, e que não escondem suas expectativas.

Levando em conta a necessidade técnica de produção de conhecimento sobre esta realidade, em 2013, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) lançou, em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), um edital disponibilizando recursos para pesquisas voltadas ao Canal do Sertão e região.

Três projetos foram selecionados e estão sendo executados por equipes multidisciplinares de quatro instituições de forma interinstitucional. Os temas escolhidos foram irrigação autossustentável, solos, e a integração entre lavoura, pecuária e vegetação nativa, e os projetos receberam quase R$ 750 mil, ao todo. As entidades científicas que compõem as equipes multidisciplinares beneficiadas são a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), o Instituto Federal de Alagoas (Ifal) e a Embrapa.

Integração
A Fapeal promoveu uma reunião de integração entre os coordenadores das pesquisas e gestores públicos de entidades interessadas no tema, além de apresentarem o andamento das pesquisas à nova gestão, nessa terça, 18. Os pesquisadores puderam expor seus primeiros resultados e protótipos e alinhar perspectivas de colaboração com representantes da Secretaria de Estado da Agricultura, Pesca e Aquicultura (Seapa), Emater e Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos de Alagoas (Aca).

De acordo com o presidente da Fapeal, Fábio Guedes, a concepção do Canal foi decidida em termos de engenharia, mas ainda é preciso estudar as possibilidades concretas de sua integração à vida das pessoas. “Precisamos escolher temas prioritários e estudá-los in loco, para gerar informações úteis à governança”, disse.

O diretor científico da Fundação, João Vicente Lima, doutor em Sociologia e pesquisador da adaptabilidade humana ao semiárido, garante que há interesse em dar continuidade às pesquisas realizadas na região, e que, para isso, serão buscados recursos. “É hora de compartilhar temas de estudo e resultados tecnológicos, e hoje já foram detectadas interfaces e pontos de conexão entre as pesquisas. Daqui por diante, vamos prospectar outras necessidades e competências a serem agregadas em futuros instrumentos de apoio”, avalia.

Necessidades Locais

Os pesquisadores demonstraram pontos em comum em seus estudos sobre o semiárido de Alagoas. Em pauta, estiveram temas como a preservação da Caatinga, o uso de energia eólica e solar, as particularidades do solo alagoano e os desafios de integrar a sustentabilidade com a produtividade agrícola e agropecuária.

Todas as pesquisas levam em conta as características específicas da grande diversidade de solos analisados, sendo um consenso a dificuldade em encontrar áreas de vegetação nativa.

Já o grande desafio a ser considerado daqui por diante é cultural: os produtores rurais precisam ser educados sobre as novas possibilidades tecnológicas em desenvolvimento com a água do Canal do Sertão, para os seus cultivos e criações, e abandonar velhas práticas que não são sustentáveis. “E já aproveitamos esse encontro para pedir aos pesquisadores que apontem outros temas que poderão ser contemplados numa possível continuação do Programa”, provoca o diretor João Vicente.