DestaqueNotícias

Intolerâncias e alergias alimentares no verão: alertas e cuidados

Grupo de Pesquisa em Nutrição faz recomendações a pessoas com restrições alimentares

 Tárcila Cabral

 

Comida de rua, fonte: Creative Commons

“Ah é só um pouquinho”, esta frase pode parecer bem inofensiva sozinha, mas no universo de intolerantes e alérgicos ela pode ser fatal. A realidade é que existem casos nos quais a medicação oral para essas condições não faz efeito, levando pacientes a andarem com adrenalina injetável para evitar, por exemplo, uma reação de anafilaxia com inchaço que pode levar o sufocamento.

Para o Grupo de Pesquisa em Nutrição (Gepen) do Centro Universitário Cesmac, os crescentes números de casos são um alerta. Abordando somente a lactose estima-se que 60% a 70% da população apresenta algum nível de dificuldade de digestão, segundo o Instituto Datafolha. Hoje, se somarmos estas condições ao fator verão, quando muitos se deslocam para outros estados e estão aproveitando as férias e festas da estação e se expondo ao sol, mar e horas de atividades, os cuidados devem ser constantes e intensificados.

A equipe do Gepen, formada pela professora Waléria Dantas, doutoranda em nutrição, e suas alunas orientandas, Isabela Peixoto e Sarah Lucena, esclarecem o tema das restrições alimentares no verão. Isabela Peixoto frisa que, antes de tudo, é fundamental lembrar-se da hidratação, não só de água, mas de sucos que possam cumprir a função de nutrir também.

Frutas, fonte: Creative Commons

Pensando em quem está nas ruas aproveitando festas, mas quer ingerir algo nutritivo, ela indica que um espetinho de carne, ou até mesmo uma raiz com a opção da proteína são as melhores escolhas: “No meu caso eu procuro por um espetinho, e pergunto se na farofa eles colocam manteiga por conta da lactose, mas a opção da macaxeira com a carne também pode ser uma opção mais segura e é facilmente encontrada”. A estudante é intolerante à proteína do leite e possui doença celíaca, por isso a atenção é redobrada.

Waléria Dantas, doutoranda do Programa de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), menciona que, para quem tem a possibilidade de transportar o seu próprio alimento, o mais indicado é levar uma fruta. Uma segunda opção seriam as oleaginosas, já que elas são de fácil acesso e mobilidade, cabem em qualquer bolsa ou pochete. As mais indicadas são amendoins e castanhas, desde que não se tenha alergia a estes alimentos.

Oleaginosas, fonte: Creative Commons

Caso o indivíduo não consiga levar a fruta nem as oleaginosas, ele pode tentar comprar frutas na rua, mas dando preferência àquelas inteiras, porque as cortadas, dependendo do calor e de onde forem armazenadas, podem entrar em deterioração.

Isabela Peixoto complementou mencionando que são inúmeras as opções de transporte de lanches fáceis e seguros, como as próprias barrinhas de proteína onde é possível ler a composição, mas também pode se carregar frutas desidratadas como banana passa, uva passa, ou ainda chips de raízes como batata doce e macaxeira.

 

 

Contaminação cruzada e conservação de alimentos

Outra condição importante a ser observada por estes grupos é a questão da contaminação cruzada. É bastante comum mesmo com toda a cautela e pesquisa nos restaurantes, os cozinheiros afirmarem que não utilizaram determinado componente no preparo, mas na manipulação daquela refeição eles utilizam um recipiente ou utensílio que entrou entrado em contato direto com a substância. Esse risco é potencializado em ambulantes e barracas de rua.

No caso das alergias aos frutos do mar, é bem frequente cozinheiros utilizarem os caldos como base para produzirem outros pratos, ou até mesmo o uso de utensílios em mais de um preparo.

Uma situação similar também ocorre com as frituras: uma pessoa intolerante ao glúten pode comer batata frita, mas ela não pode comer na rua porque desconhece se naquele óleo da batata foi frito uma coxinha ou outro alimento com glúten, o que é bem comum.

“O glúten é preocupante porque só de beber algo no copo de alguém que ingeriu glúten você poderá apresentar sintomas da doença. Se você beijar alguém que bebeu cerveja você também vai se contaminar”, frisa Isabela.

Quais alimentos são mais prejudiciais

Mesmo nessas condições específicas de festas de verão, entender de quais alimentos se deve fugir auxilia tanto na escolha de quem já conhece o preparo, quanto na de quem é turista e desconhece todo o processo. Para Sarah Lucena, os alimentos críticos normalmente são os dos ambulantes.

Camarões, fonte: Creative Commons

“Nesta época tudo acaba ficando exposto ao sol e superaquece, o perigo é ainda maior. Além disso, os produtos que possuem maionese, e também os queijos de coalho assados na hora, são outras opções nada confiáveis”, afirma Sarah Lucena, citando também o exemplo de frutos do mar em sacos plásticos expostos ao sol.

“Também existem pessoas que se dizem cuidadosas com a alimentação e que falam que preferem não comer a ter que comer na rua, só que isto também é um risco, dá hipoglicemia dependendo do tempo que se passa na rua”, completa Waléria Dantas.

A pesquisadora segue apontando que é necessário, sim, se alimentar, mas é preciso saber escolher qual o local, o que comer, e prestar atenção nas condições.

Hidratação é fundamental

A hidratação é algo que é frequentemente lembrado, mas não entendido em sua totalidade. Na nutrição, a especialista explica que existem cálculos para saber quanta água o nosso corpo demanda. Em condições normais um adulto deve consumir uma faixa de 30 a 40 ml de água por quilo de peso, já no verão como se está exposto ao sol e perdendo líquidos, este cálculo deve ser superior.

Estes cuidados também remetem às bebidas alcoólicas porque na maioria das vezes são consumidas bebidas diuréticas, principalmente cerveja. O indivíduo que só consome cerveja elimina muita urina e não consome água, o que auxilia no processo de desidratação. Quando o álcool é absorvido pelas células da parede intestinal, ele acaba atrapalhando a absorção de água, que, por sua vez, passa direto. Assim estando no calor e suando constantemente a desidratação é certa.

“Então mesmo tomando cerveja se deve continuar ingerindo água, mas não somente isso, especialmente se for ficar horas exposto ao sol dançando nas festas, aí tem de se tomar um suco, alguma coisa que não tenha apenas água, mas possua eletrólitos em certa quantidade de glicose”, afirma Waléria Dantas.

A doutoranda explica que nesta circunstância as células vão demandar energia e a bebida alcoólica normalmente consegue disfarçar bem a fome, porque dispõe de calorias: um grama de álcool contém sete. Por isso, as pessoas bebem e não comem, pois suas células estão entendendo que aquilo é energia, porém é uma energia de consumo extremamente rápido. A saciedade  momentânea vem de uma que energia é perdida rapidamente, e aí pode ocorrer uma hipoglicemia.

Sarah Lucena, Waléria Dantas e Isabela Peixoto

Apoio da Fapeal

Isabela Peixoto e Sarah Lucena, sob a orientação da professora Waléria Dantas no Gepen, iniciaram em 2019 um projeto intitulado “Imagem corporal e risco de desenvolvimento de transtornos alimentares em acadêmicos de nutrição e educação física”. Esta análise contou com o apoio da Fundação de Amparo de à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), através de uma bolsa Pibic.