Conheça de perto o trabalho de mulheres que transformam pesquisas em produtos, mas também conectam o mercado e a academia
Tárcila Cabral
Ciência, negócios e empoderamento feminino: Tudo isso está presente na startup alagoana “Mulheres Connectadas”. Conduzida pelas pesquisadoras Alessandra Pontes e Gésyka Santos, a empresa conecta mulheres cientistas ao empreendedorismo, tecnologia, e inovação.
O empreendimento analisa as dificuldades atualmente existentes e se empenha em encurtar as barreiras e distâncias, tanto das mulheres que já ocupam a academia e desejam migrar para o mercado, como daquelas que estão no mercado e pretendem atingir a ciência. Esta é a tarefa principal da organização: visualizar as potencialidades femininas e projetá-las para segmentos distintos, ampliando assim o escopo de suas atuações
A startup procura aprimorar habilidades e a liderança, inclusive quando elas não estão tão evidentes para as participantes. Compreendendo quais são os potenciais disponíveis de fato e trabalhando-os, Alessandra e Gésyca buscam aproximar suas clientes das parcerias corretas ou do segmento adequado, para solucionar as demandas dentro dos campos científico e empreendedor:
“Para a Mulheres Connectadas, muitas vezes quando a solução não estiver dentro da nossa startup, nós conhecemos outras pessoas, outros setores, onde a gente pode reduzir esse caminho, porque uma preocupação, quando a gente não tem como fazer essa conexão, é que no meio do caminho a gente pode perder uma dessas mulheres que tem esse potencial”, frisa Alessanda Pontes.
Realizar esta junção e propor tais conexões não é difícil para a dupla porque elas estão dentro dos dois universos, academia e mercado. Possuem conhecimento em pesquisa, pois Gésyca é mestranda em inovação, no Programa de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia (Profnit, da Universidade Federal de Alagoas) e Alessandra faz doutorado em Distúrbios do Desenvolvimento, pela Universidade Mackenzie, mas tem experiência no empreendedorismo:
“No mercado a gente participa da comunidade Sururu Valley e do grupo de startups alagoanas coordenado pelo Sebrae/AL. A gente é credenciada, então oferecemos serviços de mentoria e consultorias pelo Sebrae. Por isso, já fazem bons anos que trabalhamos nestes universos e agora sintetizamos tudo e estamos oferecendo isso através da Mulheres Connectadas”, menciona Gésyca Santos.
Hoje, no Brasil, existem pouco mais de 24 milhões de mulheres empreendendo. O dado de 2019 revela que esta classe injeta na economia algo em torno de 830 milhões de reais. E uma pesquisa publicada recentemente pela Distrito Dataminer alerta que dentre pouco mais de 6 mil startups do país, apenas 4,7% delas são lideradas por mulheres.
A solução nasce de um problema
A dupla escreveu um artigo acerca dos desafios impostos às mulheres empreendedoras durante a pandemia da Covid-19 e a startup despontou a partir deste contexto. As cientistas visualizaram a existência de diversos fatores impeditivos, que diminuíam a produção ou atuação destas profissionais num dos momentos mais críticos para a economia e para a ciência: “O desafio maior como mulher é esse, conseguir trabalhar no seu ambiente, porque muitas têm um ambiente e outras não. Dividir aquele seu ambiente e conseguir continuar sendo produtiva, esse é um desafio”, frisou Alessandra Pontes.
Atuando muitas vezes enquanto dona de casa, mãe, esposa, entre tantas outras tarefas que o isolamento acentuou, dividir o tempo com o empreendedorismo e continuar na academia, produzindo, segundo Gésyca Santos, é uma realidade difícil, principalmente no universo da ciência.
Estudos demonstram que a pandemia afetou de forma drástica os desempenhos das pesquisadoras: “A gente teve que se adaptar a esse novo cenário e foi muito mais difícil para a mulher, porque quando a gente checa dados de produção, os homens produziram mais que as mulheres neste período” observa a acadêmica.
Quanto ao mundo dos negócios, através das diretrizes da pesquisa, as estudiosas acabaram se deparando com diversos estigmas impeditivos, com um destaque claro para questão da invisibilidade que o meio da inovação e empreendedorismo impõe.
Devido a estes complexos, o espaço de trabalho feminino na ciência e tecnologia persiste sendo um caminho estreito a ser percorrido, pois este é ainda um setor altamente liderado por homens. As cientistas e empreendedoras que atuam nestes segmentos têm lutas muito maiores do que os homens que se lançam com os mesmos objetivos. Essas práticas obscurecem o potencial que feminino de atuar na liderança, então é indispensável perceber este contexto e para sair da invisibilidade.
O artigo oportunizou que a dupla se debruçasse sobre pesquisas nacionais e internacionais dentro da literatura especializada sobre o contexto evidenciado, e a partir disso alguns pensamentos foram ressignificados. Assim, a ideia pôde sair do papel e ser solidificada para criar um projeto que auxiliasse a derrubar ou diminuir tais barreiras.
O objetivo da iniciativa era refletir mais seriamente como estimular as mulheres a não desistirem dos seus propósitos, e que elas continuassem mostrando suas potencialidades neste momento tão complexo.
Case
Um dos frutos deste trabalho que está sendo oportunizado pela startup são as parcerias acadêmicas. Junto a uma professora do curso de Matemática da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a doutora Juliana Theodoro, foi criada a iniciativa “Mulheres nas Ciências Exatas”.
A ideia visa desenvolver nas mulheres as habilidades e ferramentas necessárias para atravessar certos entraves dentro do espectro das disciplinas dessa área, que é normalmente dominada por homens.
Outros desdobramentos das ações do Mulheres Connectadas envolve trabalhar uma linguagem para diálogo. Gésyca afirma que normalmente atende mulheres que estão dentro do universo da ciência, mas quando se trata de uma tecnologia que pode propagar aquele produto ou serviço, conectando-a com alguma parceiria, ou até mesmo com os seus clientes, esses podem não compreender bem o que está sendo ofertado. Então é sempre necessário este trabalho de facilitação de negócios para gerar um entendimento em conversas e negociações.
Network
Quem desejar conhecer de perto o trabalho desenvolvido pela Mulheres Connectadas pode seguir o perfil no Instagram @mulheresconnectadas. As empreendedoras deixam um recado: caso se interessem pelos serviços e parcerias, podem contatá-las através dos canais oficiais da startup.
O primeiro evento da Mulheres Connectadas foi apoiado pelo Governo de Alagoas através da Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (Secti) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), em setembro de 2020. O webinar permanece disponível neste link