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Neste 8 de julho, a ciência não tira folga

No Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, a pesquisa se provou indispensável ao enfrentamento de uma pandemia global

Tárcila Cabral

Chegar a mais um oito de julho, dia nacional da ciência e do pesquisador científico, e não correlacionar a importância desta data ao momento em que vivenciamos é negar mais do que a própria ciência.

Desde o início da pandemia em 2020 a pesquisa se tornou o instrumento fundamental para driblar os complexos da Covid-19 e projetar luz futura para a sociedade. Visando esse marco tão significativo, é que a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) convidou uma pesquisadora para relatar sua vivência acadêmica em tempos de pandemia.

Letícia Anderson Bassi é o reflexo da classe: Ela não parou de trabalhar diante dos desafios impostos pelo novo Coronavírus e tampouco com os desestímulos pelos cortes federais no investimento científico. Trata-se uma das tantas cientistas que tem resistido em meio ao caos mundial instalado pelo vírus. Ela representa o trabalho assíduo dos profissionais que não puderam parar nem no âmbito da docência e nem no da pesquisa, precisando assim se adaptar ao novo normal instaurado.

“Foi necessário aprender novas metodologias e tecnologias para adaptar o conteúdo e atividades para as aulas. Precisei perder a timidez de falar para uma câmera, aprender a gravar aula e fazer lives no Instagram para divulgação de informação científica. Foi uma grande superação”, abordou a doutora em Ciências Biológicas, que também é docente no Centro Universitário Cesmac.

Enquanto pesquisadora, Letícia Anderson Bassi ressalta que houve uma mudança nos seus planejamentos, que antes envolviam experimentos em laboratório e coletas de campo, para passar a atender às recomendações de segurança sem comprometer a atividade científica. Segundo ela, mesmo diante de uma imposição de isolamento social, a pesquisa necessitou inclusive de uma dedicação maior, com análises computacionais de bioinformática e revisão da literatura científica, para redação de artigos científicos com foco em novas perguntas.

No desafio do combate ao vírus, a pesquisadora relata que o primeiro mês da pandemia foi o mais crítico, pois havia uma alta carência por diagnósticos especializados que identificassem o material genético da Covid-19. Devido a grande demanda por testes, estrutura laboratorial e equipe qualificada, a cientista integrou a equipe de professores da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) que auxiliou o estado de Alagoas na execução de testes de RT-PCR, através do Laboratório de Inovação Farmacológica do Centro de Ciências Biológicas da Universidade federal de Alagoas (Laif/ICBS/Ufal), coordenado pelo professor Marcelo Duzzioni, doutor em farmacologia.

“A estrutura do laboratório foi ajustada para a realização de rotina de diagnóstico de COVID-19 por RT-PCR, e assim, além de nos dedicarmos à pesquisa, nos dedicamos ao diagnóstico, no esforço conjunto de agilizar os testes recebidos pelo estado”, menciona a cientista.

A melhor arma de combate é a ciência

A estudiosa pontuou que, neste contexto o trabalho acadêmico demonstrou o seu papel efetivo e fidedigno, visto que a ciência já está presente em nossas vivências no dia a dia, mas durante a pandemia também pôde demonstrar a sua potencialidade enquanto um recurso seguro e potente no combate a Covid-19:

“A comunidade científica se vale de método científico, discussão, reanálise de dados e reflexão para termos soluções a qualquer problema, ou ao menos apontarmos para algum caminho mais próximo a solução. O método científico nos traz respostas seguras e não se vale de uma única observação”, frisa Letícia Anderson Bassi.

A pesquisadora esclarece que cada trabalho científico se vale do conhecimento de trabalhos anteriores, de métodos corretos e alinhados à ciência. Assim amplia-se o conhecimento científico, que se consolida e serve de base para novos conhecimentos, que podem ser a solução para um grande problema. “O trabalho científico feito pela ciência básica auxilia a ciência aplicada a chegar a uma solução segura e eficaz, como, por exemplo, a descoberta de um fármaco que possa combater um vírus”, complementa.

Uma trajetória

A doutora em bioquímica explica que a sua vocação para a ciência começou antes da vida acadêmica, nutrindo sempre uma curiosidade por entender como o material genético pode impactar no desenvolvimento de uma doença e como este conhecimento era utilizado para o tratamento. A partir disso, ela cursou farmácia e concluiu o doutorado e pós-doutorado em Bioquímica, continuamente estudando o material genético de parasitas e trabalhando com biologia molecular.

“Como pesquisadora, hoje minhas pesquisas direcionaram todo o conhecimento em biologia molecular para estudar o material genético do vírus Chikungunya e entender como ele interage com nossas células e para estudar parasitoses que são impactadas por fatores ambientais”, mencionou a acadêmica.

Além do trabalho na academia, Bassi também é docente, ambiente no qual ela agrega ao ensino de bioquímica e biologia molecular todo o conhecimento e vivência de uma pesquisadora, permitindo enriquecer suas aulas e aproximar a ciência do contexto curricular.

O enfrentamento ao vírus e as perspectivas futuras da academia

De acordo com a estudiosa o momento atual pede uma reflexão geral, a comunidade científica está trabalhando em conjunto, disponibilizando livremente informações em bancos de dados de forma acessível e fazendo com que a “parede de conhecimentos” para o combate a Covid-19 cresça rapidamente.

“Há um esforço muito grande de grupos de pesquisa no mundo todo trabalhando incansavelmente para encontrar tratamentos específicos para o combate ao vírus, avaliar e estudar vacinas, estudar medidas efetivas de contingência da transmissão do vírus, e descobrir novos métodos de diagnóstico para que seja ampliada a testagem da população”, acrescenta ela.

Para a cientista, a comunidade acadêmica está cada vez mais próxima de respostas efetivas para o controle da pandemia, e certamente este compilado de estudos e conhecimentos auxiliará no combate de outras doenças existentes e que possam surgir no futuro.

Entretanto a reflexão frisada por ela diante do contexto global do vírus é de como os pesquisadores estão se aproximando de fato da sociedade: “A Covid-19 expôs muitas faces de como a ciência está em prol da sociedade, porém também mostrou como uma parte da sociedade não está apta para este diálogo”.

Hoje, a acadêmica observa que parcela significativa da população ainda não compreende a ciência e nem como ela é feita, e que este entrave também é uma responsabilidade científica, pois o diálogo entre academia e população deve ser contínuo e acessível. Para além da saúde pública é preciso instruir e aparatar os cidadãos de conhecimentos concisos, na autonomia da construção de seus conhecimentos.

Também é importante ressaltar que, ao mesmo tempo em que se destaca a sua importância e indispensabilidade, a ciência nacional está sofrendo severos cortes de investimento federal, que põem em risco a continuidade de pesquisas e serviços prestados dentro das universidades. “As consequências já são notórias hoje, e serão ainda maiores em breve, quando precisamos de respostas rápidas”, completou Letícia Bassi.

Manter a vitalidade da ciência neste oito de julho é extremamente necessário à sobrevivência humana, mas, sobretudo para alavancar diversos setores da economia e também desenvolver as comunidades, através da autonomia possibilitada por realizações científicas e tecnológicas.