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Trabalho premiado pela Fapeal foi publicado em revista holandesa

O estudo aceito pela “Fisheries Research” avaliou a trajetória e comportamento de três espécies de tainha do estado

 Tárcila Cabral – texto

 

Jordana Rangely – Acervo Pessoal

No mês de junho, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) homenageou 32 contemplados com o Prêmio de Excelência Acadêmica. O edital incentiva os estudantes das pós-graduações alagoanas a publicarem artigos científicos de peso em revistas nacionais e internacionais. Uma destas produções foi o estudo da bióloga Jordana Rangely, premiada por publicar no periódico Fisheries Research (pesquisa em pescados).

O artigo intitulado “Avaliação da variação interespecífica em características de história de vida de três espécies de tainhas tropicais simpátricas usando idade, crescimento e alometria otolítica” (Assessing interspecific variation in life-history traits of three sympatric tropical mullets using age, growth and otolith allometry), trabalhou alguns elementos como equidade, crescimento e reprodução de três espécies de mugilídeos, que são as tainhas.

A pesquisadora explica que a análise foi feita por várias pessoas ao longo de muitos anos de estudo no Programa de Pós-Graduação (PPG) de Diversidade Biológica e Conservação nos Trópicos (Dibict) do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Alagoas.

Dessa forma, o apoio cedido pelo grupo de pesquisadores e pela orientadora, Nídia Fabré, foram importantes para o processo. A equipe de pesquisa da Ufal dedicou longos períodos para as atividades de leitura dos anéis e dos otólitos dos peixes, o que foi construído ano a ano.

Jordana comenta, sobre as três espécies analisadas, que “a gente viu essa questão do crescimento delas, qual é a que atinge esse ponto mais rápido, pois ela também muda de ambiente. As tainhas são interessantes justamente porque não permanecem no mesmo local o tempo todo”, frisou a acadêmica.

A cientista explicou que os peixes se reproduzem no mar, mas quando os filhotinhos ainda estão pequenos, migram até o estuário, que é o local de seu crescimento e, portanto, uma área que precisa ser protegida. No estuário, as tainhas crescem, e quando atingem a maturidade sexual, podem migrar para o mar e completar os seus ciclos de reprodução.

Outro fator importante verificado no artigo é que eles também não crescem da mesma forma, existe uma plasticidade no uso de habitats: “Por exemplo, a espécie a Mugil rubrioculus se desenvolve mais rápido e atinge a primeira maturação dessas espécies, já a Mugil liza demora mais tempo para crescer, mas atinge proporções maiores”.

O estudo visou compreender justamente qual é o ponto de mudança das características e como isso impacta na história de vida de três espécies, incluindo-se também a Mugil curema. A acadêmica explica que por isso, o trabalho abarca fatores econômicos e de políticas públicas para a proteção dos habitats, logo tem um impacto social, econômico e ambiental.

Aplicabilidade social do estudo

Foto – Pei Fon

Foram mapeados neste trabalho alguns pontos de aplicabilidade social. Jordana Rangely explica que o primeiro deles é o de preservação. Sabendo-se que o estuário é a área de criação desses peixes, é preciso mobilizar estruturas para a conservação, porque não é somente a tainha que se utiliza desse espaço, como muitas outras espécies fazem do estuário o seu berçário para que os filhotes atinjam a maturidade sexual.

O segundo ponto é: havendo a preservação e uma manutenção dos estoques de peixes isso gera um impacto econômico substancial para Alagoas, para o país e toda a região onde há esse pescado.

“Se o pescador mantiver o estoque ele sempre terá um peixe para pescar, a gente não vai mais possuir tanta pobreza no nosso estado e teremos a manutenção dessa atividade que é tão importante para o mundo. Atuando desta forma, conseguimos manter a pesca, que gera bilhões de dólares por ano, então é uma atividade muito significativa e rentável”, citou Jordana Rangely.

Premiação e valorização pelo trabalho científico

A pesquisadora foi uma das contempladas no Prêmio de Excelência Acadêmica, lançado no contexto do “Programa Mais Ciência, Mais Futuro”, uma colaboração entre a Fapeal e a Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação (Secti). No evento ela não só recebeu o certificado por sua contribuição, como falou em nome dos alunos apoiados:

“Foi um sentimento positivo de valorização, de reconhecimento, de um trabalho árduo que a gente desenvolve por anos dentro da universidade. Não é pontual, o artigo é o ápice do nosso trabalho, mas essa produção vem sendo desenvolvida por anos por uma equipe super qualificada. Portanto ter um reconhecimento público e financeiro também é importante”, pontua a doutoranda.

Ela reforça que se sentiu honrada por ter sido escolhida para discursar em nome dos contemplados, principalmente por ser mulher, mãe e pesquisadora:

“É de fato essencial o trabalho que a Fapeal vem desenvolvendo no nosso estado, tanto com a equidade, com a transparência que ela carrega nos seus processos seletivos em editais, contemplando o cientista que quiser se inscrever, que puder se inscrever. Eu acho isso fundamental”, pontuou a estudiosa.

Jordana Rangely completou citando que o apoio é necessário para que os cientistas permaneçam imersos em suas investigações e desenvolvam resultados efetivos que possam ser publicados em revistas internacionais, apontando que o tempo depositado por estes profissionais em seus laboratórios deve ser nutrido de auxílio financeiro e moral.

Contribuição para o Programa de Pós-Graduação

Jordana Rangely em pesquisa de campo

O reconhecimento e apoio não são apenas importantes para os contemplados, mas refletem principalmente nos PPGs das universidades locais. Os trabalhos publicados são medidos através de um parâmetro chamado qualis, então quando os estudiosos publicam artigos em revistas qualis A (o nível mais alto e o único que o Governo de Alagoas premia) isso conta para a pontuação do programa na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência do Ministério da Educação, cujos índice afetam diretamente o recebimento dos recursos federais.

A estudiosa frisa que hoje Alagoas está se destacando em seus PPGs porque os estudantes estão publicando progressivamente:

“O meu programa, que é o Dibict, está num nível altíssimo de publicação científica pelos próprios estudantes, com os seus orientadores. Isso gera uma pontuação maior para o PPG que, obviamente, vai o colocar numa escala melhor para receber mais recursos. É um reconhecimento para a universidade, para o estado e para o país, pois os artigos são publicados em sua maioria em revistas internacionais”, completou a bióloga.

Isto revela que não é apenas o Brasil e Alagoas que estão reconhecendo os trabalhos desenvolvidos, mas sim outros países do mundo com ciência de alto impacto, que entendem dos temas e reconhecem o nível dos pesquisadores locais. Portanto, a valorização que o Governo de Alagoas vem promovendo motiva e auxilia um PPG a ganhar corpo, sendo melhor avaliado dentro da universidade, do país e do ranking mundial.