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Doutorado articulado pela Fapeal garante qualificação na USP para profissionais da Uncisal

Professoras da universidade estadual de saúde relatam importantes pesquisas e oportunidades alcançadas no programa

Tárcila Cabral – Texto
Foto: João Monteiro

 

Com o intuito de promover a capacitação do corpo docente da Universidade Estadual de Ciências da Saúde (Uncisal), contribuindo, assim, para a formação qualificada de recursos humanos para o estado, a Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapeal) proporcionou, com recursos próprios, 16 bolsas de Doutorado aos servidores da instituição.

Eles foram selecionados no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública, para o curso de doutorado oferecido por meio de convênio interinstitucional entre a Uncisal e a Universidade de São Paulo (USP).

Ao todo foram 16 meses de estudos financiados por meio de bolsa, desde abril de 2020, totalizando R$ 563 mil destinados ao Programa. Dentre os contemplados com o doutoramento em Saúde Pública, estão as professoras Vanessa Porto e Waléria Dantas. O apoio da Fapeal, para além da articulação do programa de doutorado, também oportunizou visitas técnicas e cursos que enriqueceram seus currículos.

O foco das acadêmicas foi direcionado a duas categorias específicas de trabalhadores: aqueles que atuam no campo da educação e lidam com os desafios do adoecimento vocal, e os profissionais da saúde que enfrentam jornadas de trabalho noturnas e atípicas, exigentes para o organismo humano.

As duas professoras reconhecem que, dispor da bolsa e da possibilidade de estudar na melhor universidade da América Latina foi um fator motivador para as suas análises e lhes proporcionou mudanças consideráveis na forma de preparam e ministrar suas aulas.

As acadêmicas ressaltam que a bagagem de realizar um doutorado na USP foi um grande ganho para a turma de docentes da Uncisal. O grupo teve a oportunidade de conviver com pesquisadores notáveis de diversas áreas da saúde pública. O que permitiu com que eles construíssem uma formação ampla, mesmo dispondo de investigações bem específicas.

“Eles queriam que nós déssemos um retorno ao Estado e à Uncisal, trazendo para a sociedade uma devolutiva. Hoje, as nossas disciplinas foram completamente transformadas, pois temos muito mais a contribuir”, completou Vanessa Porto.

Ao se aprofundar na primeira pesquisa, ela buscava desvendar a complexa relação entre o adoecimento vocal e a carreira dos professores, uma parcela significativa da população brasileira que sofre com essa disfunção.

A estudiosa esclarece que a literatura já apontava diversos fatores que contribuíam para essa patologia, como os aspectos ambientais, incluindo ruído, iluminação e limpeza, questões individuais e até mesmo elementos organizacionais, como o estresse. Todos esses fatores estão interligados, aumentando o risco entre os docentes expostos a esse ambiente desafiador.

Para esta abordagem, uma escola de Maceió foi escolhida como cenário. Junto à equipe escolar, a investigação foi desenvolvida durante um ano e meio, com diversas reuniões e discussões para compreender as causas da disfonia e debater soluções.

Cronobiologia e saúde dos trabalhadores noturnos

Seguindo para outro enfoque no campo da saúde, a pesquisa de Waléria Dantas explorou a influência do trabalho noturno na vida dos profissionais. Ela frisa que a questão surgiu a partir de uma hipótese já amplamente conhecida na literatura, de que exercer atividades em turnos noturnos aumenta os riscos de doenças cardiovasculares. E embora este fosse um dado bem estabelecido, a estudiosa buscava determinar o porquê de essa realidade afetar de maneira tão significativa a vida dos indivíduos.

Em sua análise, Dantas passou a verificar se a raiz da aorta, que é o vaso mais espesso e grosso que o organismo humano possui, envelheceria mais rápido para aquelas pessoas que trabalham neste período e se isso representaria um risco de desenvolver hipertensão, e consequentemente, potencializar a possibilidade de um AVC ou um infarto.

“Eu estudei, neste contexto, parte da população que só trabalhava durante o dia, comparando com parte da população que se expunha ao trabalho noturno: os enfermeiros, porque eles são o maior número em qualquer unidade hospitalar e local de assistência de saúde. Eu visava verificar a diferença entre o enrijecimento desse vaso, que é o vaso mais importante que envia o sangue para todos os outros vasos”, explicou a pesquisadora.

Segundo Waléria, compreender essa área foi um desafio para ela, pois a cronobiologia ainda é uma ciência muito recente, originada na metade do século XX e que estuda os ritmos do corpo humano. Ela explica que o organismo apresenta um determinado “maestro” que é conhecido como pineal, uma glândula que marca todos os passos do corpo. Logo, compreendendo a espécie humana como animais mamíferos que são diurnos, elas devem estar ativas de dia e descansar a noite. Mas quando este público se expõe a atividades noturnas, esse ritmo é invertido e todas as outras funções do organismo são afetadas.

A pesquisadora menciona que, à noite, a frequência cardíaca deveria ser mais baixa, assim como a pressão arterial, porém este é o momento em que o trabalhador noturno deve estar em estado de alerta, exposto a luzes e agitação. Eles são biologicamente expostos a se alimentarem, responderem profissionalmente e raciocinarem num horário em que não deveriam.

“O sistema cardiovascular não compreende isso como normal e a resposta é o estresse que isso determina, impactando negativamente na saúde das pessoas. Aí o risco de obesidade e de se expor ao tabaco, álcool e má alimentação são maiores”, frisa a doutora em saúde pública.

Com o andamento da pesquisa foi possível constatar que, quem se expõe ao trabalho noturno tem de fato a alteração de alguns parâmetros cardiovasculares que podem potencializar o aparecimento precoce de ‘desfechos duros’, que seria potencializar o aparecimento precoce de AVC, infarto e outros distúrbios cardiovasculares.