Notícias

Fapeal financia análise da contaminação infecciosa de fones de ouvido por bactérias

Pesquisa realizada na Uncisal conquistou o 1º lugar regional em congresso acadêmico e foi apresentado no maior evento científico da América Latina

 

Maria Clara Valente e Drª Juliane Cabral
Inovar no ramo das pesquisas científicas não é só possível: é preciso, afinal ainda existem muitas condições complexas a serem sanados e doenças que aguardam ansiosamente por novos tratamentos. Trabalhos como este são apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal).

A exemplo desta concepção, os estudos desenvolvidos na Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal) ganharam impulso nos últimos dois anos. Atualmente, na Uncisal, são desenvolvidos 54 projetos do Programa de Iniciação Científica (Pibic), fomentados pela Fapeal, com base na área médica das ciências da saúde. Os estudos estão incluindo novas áreas devido à atuação de docentes admitidos recentemente.

A professora Juliane Cabral é um exemplo desta linha: ela foi a primeira a desenvolver trabalhos com plantas medicinais, neste contexto institucional. Ela cita que este crescimento acadêmico provocou um aumento de pesquisas. Hoje os Pibics contam com mais inscrições e um número maior de alunos estão abordando pautas que anteriormente não eram discutidas. O foco destas pesquisas têm se voltado principalmente a temas epidemiológicos, que englobam problemas médicos e não médicos, mas que são do interesse de mais de um curso, buscando complexos vividos na localidade.

Pibics a serviço das ciências médicas
Ao trazer uma visão da pesquisa de quem já começou suas atividades científicas na graduação, Maria Clara Valente é um exemplo desta corrente. A estudante acompanhou o crescimento dos Pibics da Uncisal no curso de Medicina e possui uma experiência diversificada acerca do conhecimento científico. Com apoio da Fapeal, a estudante teve a oportunidade de participar este ano da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Belo Horizonte, apresentando uma de suas pesquisas, que foi premiada regionalmente com o 1º lugar no Cacun. Em seu trabalho, ela abordou uma análise da contaminação e perfil de resistência da bactéria staphylococcus aureus em fones de ouvido, causa de infecções.

A ideia surgiu enquanto já despontava um interesse na especialização em otorrinolaringologia e foi orientada pela professora Yáskara Barros, que desenvolvia linhas de pesquisa com staphylococcus. Num primeiro momento, a aluna fez uma revisão de literatura sobre o material disponível acerca da bactéria e observou que a maioria dos trabalhos existentes falava somente sobre a perca auditiva em relação aos decibéis escutados, mas muito raramente abordando estudos de infecção. Maria Clara passou então a estudar a possibilidade das infecções de staphylococcus por fones de ouvido, que são objeto de uso popular e causam contato direto do mundo externo com o conduto auditivo.

Foi feita inicialmente uma abordagem junto a própria comunidade acadêmica da Uncisal, porque se acreditava que naquele meio seria mais comum a utilização do objeto, o compartilhamento, e que os cuidados tomados não seriam tão frequentes. A dupla utilizou 37 amostras, devido ao receio que ainda se apresenta pela exposição, mesmo explicando que estes voluntários não seriam identificados.

Pela falta de um acervo vasto de trabalho sobre o tema, restava a dúvida acerca desta incidência. Na prática, será que estas bactérias tinham de fato um impacto na vida das pessoas? São capazes de serem facilmente encontradas nestes locais e, o mais importante, elas são capazes de causar infecções? Nas amostras isto foi bem esclarecido, foi encontrado um percentual de 30% da presença do staphylococcus nos fones.

Maria Clara Valente explica que esta bactéria pode estar presente na pele, na cavidade nasal e constantemente causa infecção. Foi realizada uma análise de proporção com os fones intra-auricular e o auricular — aquele fone que fica apenas na superfície: “Dentro da nossa porcentagem foi visto que nos fones encontramos um perfil da bactéria de 30% em indivíduos saudáveis e por mais que não fossem o aureus (bactéria), que a gente encontrou em todos, a maioria dos fones tinha outras espécies de staphylococcus, então ele consegue carregar esta bactéria”, enfatiza a graduanda.

A pesquisadora cita que esta região do ouvido é tortuosa: acumula dendritos e, por mais que exista a cera que protege o local, caso o indivíduo perca a continuidade desta cera ou outro tipo de microrganismo resolva se instalar ali, o conduto se torna perfeito para a proliferação das bactérias.

Danos e possibilidades
A infecção do conduto auditivo externo é perigosa. Ela é conhecida como otite externa e é bem comum, causando dor e incômodo, podendo levar a uma perda auditiva parcial ou total caso não seja tratada. Lembrando que a sua presença só é identificada quando a infecção ataca, por isso é importante estar atento, pois anteriormente ela fica instalada silenciosamente.

As análises permitiram algumas impressões com a pesquisa, revelando duas realidades situacionais: uma que indicou um número já significativo da bactéria, mas que este estudo ainda deve ser continuado com pessoas com infecção, porque não se pode prever que este indivíduo com o fone infectado irá desenvolver algum problema ou não. E outra linha de estudo que mostra que este percentual, apesar de não ser um número majoritário dos fones, ainda sim é significativo, mostrando que é preciso uma conscientização, sobre a higienização correta com álcool 70% ou outras medidas de higiene.

Para o futuro da pesquisa, orientadora e orientanda planejam continuar a proposta, investigando a carga bacteriana em indivíduos com a infecção, pois estes riscos são maiores. A falta de pesquisas existentes na área torna esta abordagem inédita, a partir de uma preocupação que é real, por isso, muitos pesquisadores se interessaram por entender mais sobre a infecção durante a apresentação de pôster feita por Maria Clara Valente na reunião da SBPC.

Segundo as entrevistadas, as expectativas da Uncisal para 2018 estão crescendo e sendo motivadas graças à nova situação de pesquisa que emergiu através das iniciações científicas. A diversidade auxilia diretamente nos produtos finais e atendimentos realizados no SUS alagoano, pois muitas destas pesquisas têm uma aplicabilidade prática direta, significando que produzir um estudo deste porte e apresentá-lo a um púbico instigado promove a articulação de pesquisas entre Nordeste e Brasil.